domingo, 26 de dezembro de 2010

Javé

Por hoje és uma lasca na janela;
Ontem um ônibus.
Amanha pode ser que o sol;
Acho que não.
Tu, que nem cruel nem amoroso,
Tu, que nem nada.
Tu que me tomas
E me devoras num grão.
Tu que me és
E desfazes
Os pés da minha razão.
Tu que sou num rasgo de instante
Que se estala nos panos.
Tu, que não sei se rompante
Ou amante.
Tu, que brilhas fosco
De tanta claridade seca.
És, vejo, nítido.
Fazes-te, sinto, obscuro.
É... Prefiro-te lasca na janela hoje
E ônibus ontem,
Quem sabe sendo sol amanhã.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sertanejo

Valdiceia parte rumo a terras mais perdidas
Em pranto de terra que deixa o chão.
Na trouxa, uns trapinhos de Jorge, Maria, marido e própria.
Valdomiro busca ares mais ventantes
Em coragem de coiote.
No cangote, enxada e prece partidas esperam assento.
Em frente, Valparaíso,
Que cala num longo anseio
De sonho esperançoso.
Do requentado caminhão
Ouvem-se só ronco metálico e este sonho,
Tão discreto entrosado na lona suja
Que cobre as ásperas banquetas.

Quiçá Valparaíso valha um sorriso.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Do sonho

(11 de Dezembro de 2010)

Para ser poeta devo passar horas a mirar uma flor.
Para ser pensador, ser bucólico.
Nada mais.
Hoje é isso que me passam:
Ouça os clássicos e contente-se nisso,
Sabendo que aquilo que passou é melhor que o vindouro.
Hoje, então, estou tomado por uma melancólica depressão.
Hoje estou sonhando de um passado que nunca passou,
Sendo bucólico perdidamente,
Agarrado à flor do tempo
Que não sabe em que chão brotar.
Hoje sou um broto.
Este botão de rosa que não quer nada
E se fará independentemente.

Oriente-se!

Hoje cá divagando no twitter tropecei numa pedra que sempre assola meu sapato: as pessoas e suas amadas "opções", em especial a tal da "opção sexual". Juro que nunca ouvi tamanha incongruência. Não só por ser ofensivo para com a comunidade LGBTT, que nunca, jamais, tal se tornou por mera opção, mas também por não fazer o menor sentido: vem você (e por você não me refiro necessariamente a ti, leitor, mas aos terceiros defensores da opcionalidade), do alto de sua moral e íntegra heterossexualidade, dizer que ser hétero ou homo é uma escolha. Nunca vi-lhe fazendo a escolha, pensada e ratificada, por mulher quando confrontado com a possibilidade de beijar um homem, ou vice-versa. Não vejo por que então, sem nenhuma conexão causal, o homem que ama um homem ou a mulher que ama uma mulher optou por isso.
Não que acredite na ideia de um gene gay - não há mais pura falácia (perdão, há a opção sexual); mas é nítido que a orientação sexual tem raízes na construção socio-psicológica da pessoa. Também não é uma relação de causa e efeito: se os pais fizerem A, seu filho será B, ou se o espécime for submetido ao ambiente X, tornar-se-á Y. O mais sensato seria dizer que existem circunstâncias que favorecem a homoafetividade.
Daí a dificuldade (e arriscaria dizer inutilidade) de se categorizar homossexuais, e mesmo de tentar explicá-los: não há lógica que encaixe toda esta comunidade sob uma mesma égide psicanalítica. Pena que a grande maioria das pessoas não entende isso.

Profana Valência

Vamos a Valência,
Eu e você.
Quero dançar rumba e beber vinho
Ao som do mar e luz da noite.
Vamos incendiar-nos!
Quero ser devorado
Em meio ao fogo no ar.
Venha à minha Valência, amor,
Cá no meu canto febril.
Vamos perder-nos nas ruas,
Perder-nos no mar!
Vamos dançar até a lua gritar!
Vamos gritar!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Alma de cereja

Sabiá pousou na cerejeira de minha janela
E cantou de uma nau a viajar.

A nau a navegar
Vê ao longe uma bola de fogo
Que incendeia o mar vermelho,
Incendeia suas paredes de papel
E borra os desenhos das ondas.
A nau navega ao fogo
E chega à borda do mar
Só para saber que a bola
Já estava a afundar.

Verde abacate

(Escrito de 22 a 27 de Novembro de 2010)

Queria um dia de Cesar,
De veni, vidi, vici.
Queria um trigal louro
Num dia ventante;
Um dia de Hollywood,
Um vestido de Marilyn
E um amante vultoso.
Queria ser Isle of Wight
E Vasco da Gama
Ao mesmo tempo.
Queria ser fada
E uma barra de chocolate.
Queria quereres de sabiá
Que sabia só poder viver
Num abacateiro,
Saudoso da gaiolinha.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Quero Ser John Malkovich

Filmes psicodélicos raramente são a primeira opção do público em geral quando se trata de cinema, mas quase sempre fazem grande sucesso entre os críticos. Há também um seleto clube de admiradores do estilo, e nomes como Spike Jonze e Charlie Kaufman são obrigatórios em qualquer lista de cinema alternativo. Talvez uma das obras mais bem sucedidas da parceria seja Being John Malkovich (Quero Ser John Malkovich, USA Films, 1999). Como fã assumido do gênero, não poderia me abster de comentar o longa.
Em síntese, a trama do filme gira em torno do casal Craig Schwartz (John Cusack) e Lotte (Cameron Diaz) e a descoberta de um portal que leva à mente do ator John Malkovich (interpretado por si mesmo). A partir daí a trama se desenrola numa mistura enlouquecedora de realidade e fantasia, e não cabe a mim estragar o final da trama, nem contar toda a história para que o leitor não perca a emoção dessa divertida comédia de humor negro, mas me permitirei ao luxo de adiantar um ou outro trecho que considero importante para a análise da obra.
A primeira vista poderíamos dizer que o filme trata dos limites da personalidade, até onde vou eu e começa você, e esse tipo de coisa. Em certo grau isso até se aplica, porém creio que a questão implícita à trama gira em torno da manipulação: quem manipula, quem é manipulado, como esta relação se dá e se altera e por quê. Isto fica bastante explícito quando logo que descobre o portal, Schwartz diz para Maxine (Catherine Keener) que o achado levanta uma série de questões sobre personalidade e filosofia do eu, num discurso quase ridicularizado pelo contexto da cena. Maxine imediatamente interessa-se pela possibilidade de lucrar com o portal, plano com o qual Schwartz consente, botando em primeiro plano da discussão o interesse de Maxine e não o questionamento de Schwartz.
Temos durante toda a narrativa uma relação de títere e titereiro: aquele que controla a cena por trás das cordas e aqueles que funcionam como meros fantoches. Schwartz é titereiro por profissão, porém a profunda afeição que ele desenvolve por Maxine põe-lhe na condição de seu títere, fazendo de tudo para agradá-la. Daí podemos induzir que Kaufman (o roteirista) pretende criticar as paixões e a força que elas exercem sobre as pessoas. Lotte, a esposa de Schwartz, também se apaixona por Maxine, e daí pra frente a personagem de Keener faz um jogo de manipulação em busca de um equilíbrio entre sua afeição por Lotte e os benefícios que Schwartz tem a lhe oferecer.
John Malkovich aparece submerso em meio às tramas de manipulação e as diferentes pessoas que assumem controle de seu corpo através do portal ou em seus relacionamentos. Neste sentido seu personagem serve, ironicamente, apenas como instrumento da trama. Sua capacidade de submergir em inúmeros personagens num curto período de tempo, contudo, é genial, e foi merecidamente reconhecida como uma das melhores atuações de todos os tempos.
Mas os fantoches também não são de todo ignorantes. A descoberta da manipulação é vividamente interpretada numa sequência conhecida como Craig's dance of despair and disillusionment, em que o personagem de Cusack, encarnado em John Malkovich, realiza uma de suas performances para Maxine usando o próprio corpo de Malkovich. O filme na verdade começa com esta dança: Craig utiliza-se de um títere com sua fisionomia para realizar o espetáculo. A encenação de Malkovich, no entanto, encaixa-se num momento crítico do filme, em que a tensão entre manipulados e manipuladores atinge seu ápice.
A diferenciação entre títere e titereiro, entretanto, não é tão clara durante toda a história. Há momentos em que Schwartz parece conseguir assumir o controle da narrativa, outros em que o Dr. Lester (Orson Bean) o faz, e até Lotte chega a lutar por suas pretensões com um certo sucesso. Creio que a separação entre acaso e verdadeira manipulação se mostra na capacidade das personagens de se adaptarem a novas situações: a única que realmente consegue se dar bem em todas as circunstâncias é Maxine.
É difícil dizer que esta questão é a única subjacente à narrativa, porém tenho convicção em colocá-la no centro da discussão. Há, obviamente, uma série de outras ideias que emergem do filme, mas não pretendo me aprofundar muito nelas para evitar um excesso de divagação. Quem quiser se enviesar por esse caminho, assista!

Título: Quero Ser John Malkovich (Being John Malkovich)
Diretor: Spike Jonze
Roteirista: Charlie Kaufman
Elenco principal:
John Kusack
Cameron Diaz
Catherine Keener
Orson Bean
Mary Kay Place
John Malkovich
Duração: 112min
Lançamento: 22/10/1999
Distribuidora: USA Films

Avaliação:
Ótimo

The ArchAndroid

Esta é a versão adaptada e revista de uma crítica escrita no dia 22 de Agosto deste ano de 2010, postada no blog Voicethings, que resolvi utilizar para inaugurar a sessão de críticas do blog, por tratar do álbum que tenho convicção em chamar de "o melhor do ano". Falaremos então de Janelle Monáe e seu debut The ArchAndroid, um álbum pop (teoricamente) que impressionou os críticos e vem causando ótima impressão também no público em geral.
Comecemos falando da concepção artística do disco. The ArchAndroid fala da vida da andróide Cindy Mayweather que se apaixona por um humano, Anthony Greendown, e sua consequente aventura desencadeada pelo amor, ambientada na cidade de Metrópolis, em meados da metade do século XXI. A história é inspirada no filme clássico expressionista alemão de 1927, Metropolis, apesar de claramente não estar embutida no contexto do longa, que narra uma história diferente e abordando outros temas, especialmente de segregação social e disputa de classes. Ademais, a epopéia de Cindy puxa inspiração de Ziggy Stardust, alterego de David Bowie, que, resumidamente, trata-se de um andróide que veio à Terra para observar e aprender com a humanidade.
Para que a história do álbum seja plenamente compreendida, contudo, é necessário ouvir o LP Metrópolis: Suite I (The Chase) de Janelle, lançado em 2007, fato que fica explícito com o subtítulo do disco de 2010 (Suites II and III). O LP traz em sua música introdutória uma explicação da história, além da primeira parte da narrativa, tornando-o fundamental para a compreensão de The ArchAndroid.
A aventura de Cindy Mayweather desenrola-se na cidade inferior de Metrópolis, onde vivem as classes baixas e pessoas indesejadas. Cada música conta um episódio diferente da trama, conforme Cindy vai passando pela cidade, conhecendo pessoas e lugares e fugindo da perseguição que sofre por seu relacionamento com Anthony Greendown. É um conto um tanto quanto psicodélico, e não é muito difícil acabar perdendo-se em determinado momento do disco, especialmente nas primeiras vezes que se ouve o trabalho inteiro. Entretanto, após algum tempo, o álbum passa a soar como um filme que fica gravado na imaginação, criando imagens bem literais na mente do ouvinte. O fato que torna o álbum ainda mais interessante é que Janelle Monáe tem uma capacidade de envolvimento poderosíssimo em sua voz, que faz com que você queira "assistir ao filme" repetidas vezes.
De acordo com a própria Janelle, a escolha da figura de um andróide para sua personagem tinha como objetivo explicitar uma metáfora que refere-se às minorias desprivilegiadas, tratando Cindy como uma espécie de mediadora entre dominantes e dominados. Combinando isso ao cenário futurista de um filme clássico que fala de lutas sociais, podemos induzir que a mensagem do disco é o de exposição e degradação dos preconceitos em nome de uma sociedade menos fechada e reprimidora.
A trama do disco é verdadeiramente fenomenal e envolvente, com uma série de inspirações fortes e metáforas complexas, mas é possível que musicalmente o álbum seja ainda mais criativo. Apesar de ser considerada uma cantora pop (e talvez tenha entrado em tal categoria pela completa impossibilidade de encaixá-la num único estilo musical), Janelle viaja por uma série inenarrável de estilos: soul, neosoul, punk-disco, art rock, r&b, funk e hip hop, para citar os mais marcantes no decorrer do trabalho. Tal método de criação tem claras raízes no fato de Monáe ser pupila do duo de hip hop OutKast, conhecido por seus discos extremamente ecléticos. Também vale ressaltar que uma mistura tão intensa de estilos valoriza a viagem por vários segmentos sociais proposta no álbum.
Cada música é tão rica em sons, ideias, construções e desconstruções que seria inviável tratar de todas individualmente além da análise do álbum como um todo. Por isso vou ser sintético e tratar primordialmente das músicas que considerei melhores no trabalho, mas sempre sem desmerecer as demais. Temos primeiramente Tightrope, que também acabou tornando-se o primeiro single de The ArchAndroid. A música fala sobre equilibrar-se na vida, independente das opiniões das outras pessoas e de si mesmo, sabendo manter-se na linha nos momentos altos e baixos. Trata-se de um dance funk soul no melhor estilo James Brown: contagiante, fervorosa e envolvente. Creio tratar-se da música mais forte do disco, não surpreendendo ter se tornado primeiro single. Em termos de faixa mais cativante, contudo, perde para Cold war, um momento extremamente dramático do disco, que soas como um desabafo de Cindy pela completa solidão vivida após o sumiço de Greendown, e o abandono que vive em meio à sociedade. A voz poderosa de Monáe torna Cold war um prato cheio de sons e sensações. É, provavelmente, a melhor música do disco. Dance or die, por sua vez, narra Cindy numa fuga apressada. Tal clima é criado pelo rap rápido feito por Monáe, e tem um clima de aceleração brilhante para um início de álbum. Faster dirige-se no mesmo sentido, entretanto cantada ao invés de feita em rap, o que muda a direção discurso: ao invés de falar de perseguidores, fala do amor. Já Oh, maker tem um clima leve e calmo, descrito por críticos como um canto pastoral britânico suave e refrescante que sucede a tensão e velocidade da primeira metade do álbum. Tanto que a partir daí o disco torna-se de fato bem mais lento, conforme Cindy passeia pelo submundo da cidade inferior, observando sua vida. Por fim, uma das músicas mais intensas do álbum é BaBopByeYa, um poderoso soul, gritado em meio a quase nove minutos de um instrumental belíssimo. Não contarei o que se sucede nesta, que é a última faixa do álbum, para não entregar o final da história de bandeja.
Em conclusão, este é definitivamente o álbum que mais vale a pena ouvir em 2010 até o presente momento. Como disse um crítico do The New York Times, todo ouvinte encontrará uma faixa que sempre desejará pular depois de um tempo, mas creio que isso seja motivo de orgulho para The ArchAndroid: justamente sua gama de estilos acaba trazendo discordância, já que nem todo mundo gosta de todo estilo de música; entretanto de forma geral o álbum é eletrizante. Uma história emocionante, uma voz incrível e um arsenal musical imenso fazem de Janelle Monáe uma das verdadeiras reinventoras do pop do século XXI.

Título: The ArchAndroid (Suites II and III)
Artista: Janelle Monáe
Lançamento:
18/05/2010
Gravadora: Wondaland Arts Society, Bad Boy
Produtores: Kevin Barnes, Big Boi, Sean "Diddi" Combs, Roman GianArthur, Chuck Lightning, Janelle Monáe e Nate "Rocket" Wonder
Gênero: Pop, funk, soul, dance-punk, neo soul, art rock
Faixas - duração:
1. Suite II Overture - 2:31
2. Dance or die - 3:12
3. Faster - 3:19
4. Locked inside - 4:16
5. Sir Greendown - 2:14
6. Cold war - 3:23
7. Tightrope - 4:22
8. Neon gumbo - 1:37
9. Oh, maker - 3:46
10. Come alive - 3:22
11. Mushrooms & roses - 5:42
12. Suite III overture - 1:41
13. Neon valley street - 4:11
14. Make the bus - 3:19
15. Wondaland - 3:36
16. 57821 - 3:16
17. Say you'll go - 6:01
18. BaBopByeYa - 8:47

Avaliação: Ótimo

sábado, 18 de dezembro de 2010

Sobre pensar-se

Penso, às vezes, que somos excessivamente iguais. Penso que entre Freud e Lévi-strauss, entre urbano e democrático, viramos um punhado. Céus, até nossas crises são iguais, nossas tristezas, medos. Nossas músicas. Nossa arte. Odeio ser igual, talvez em todos os sentidos. Talvez não, não sei. Não posso odiar, digo-me. Ou dizem-me, sei lá, veja como quiser. Afinal, o problema é sentir-me igual por dentro e por fora. Ser igual sendo diferente. Ter que aceitar o fato de que somos todos diferentes, e nisso iguais. E daí mais uma das rotineiras crises, de que tanto ouvi em mim e outrem. É um tal de "não me encaixo nesse mundo" pra cá e "me sinto tão sozinho" pra lá. Um mundaréu de tristezas urbanas e depressões freudisíacas. Sim, freudisíacas. Quase poéticas. O que me insatisfaz é rolar, assim, rotineiramente, com meus problemas tão comuns querendo ser diferentes, pensando ser únicos. E isso é ser humano? Ter problemas comuns que se sentem, como diriam os americanos, exquisits? Porque sim, a melhor palavra seria esquisito. Talvez. E talvez seja, no fim das contas, a similaridade e não a diferença que causa o que rotulamos por problemas públicos. Vá lá guerra, violência urbana, o que você quiser. Penso assim: se fulano me assalta não é porque somos excessivamente diferentes, ele lá na favela, eu cá no condomínio, mas porque somos iguais. Temos, hora ou outra, os mesmos problemas, os mesmos pensamentos, os mesmos anseios e, hora ou outra, tudo isso colide e se antagoniza. Antagonizamo-nos pelas igualdades, se quiser. Afinal, já somos um punhado, por que não embutir um punhal? Por mais liricamente ignóbil que possa soar o trocadilho. Queria mesmo era me libertar dessa cadeia viciante de pensamentos e reflexões que me fazem, digo-me, humano. Talvez abrir mão de um punhado de humanismo, humanitarismo e qualquer outro lato senso do politicamente correto para ver se encontro aí um humano. Pena que, de novo, sou um punhado de lato senso. Penso que devo concluir ser inútil. Afinal, há quem tenha teorizado até o pensamento. Estou, então, destinado a uma prisão de pensamentos encadeados, encadernados, que me movem, tornam-me tão humano e tão (ignobilmente) vão. Ignóbil, por fim.

Aí, então, sou eu:
Uma estrofe que se estufa de som,
Que se sabe ruído,
Deseja-se tom
E morre de tanto inspirar.

Apresentação

Assim como seu formato e visual, o objetivo deste blog é bem simples, bastante clean, e assim sendo pretendo ser bem direto em sua exposição. Desde a criação de minha primeira página no blogger (http://protopoemas.blogspot.com/) tenho sentido cada vez mais a necessidade de um espaço amplo no qual fosse possível comentar todo e qualquer tipo de questão, com ênfase especial nas esferas artística e política. Opinar, afinal de contas, é um dos grandes cernes de nossa sociedade da informação e sua tão amada liberdade de expressão.
Mas como todo bom opinador, sou afeito a convicções, e disso não pretendo me esquivar. Pelo contrário, gosto da sensação de bater de frente com opiniões diversas e gosto das polêmicas em torno de questões antagônicas. Portanto, tal qual sempre fiz questão de frisar em todas as minhas páginas, peço que quem venha a eventualmente dar-me a honra de ler algo do que eu escrevo manifeste-se, quer concorde ou discorde de minhas opiniões.
Ademais, pretendo unificar os diferentes enfoques que dei em meus blogs anteriores, citadamente Protopoemas e Voicethings (http://voicethings.blogspot.com/), então não será rara a reprodução de posts antigos de tais páginas aqui.
O título do blog foi idealizado a partir da tradução livre do nome de meu blog com temática musical, Voicethings, e busca expressar o desejo de transformar em conteúdo explícito aquilo que penso. Também visa embarcar num mesmo conjunto todo tipo de material escrito de minha autoria, desde poemas até críticas e crônicas. O subtítulo, "Um palmo de existência sonora", foi extraído do poema "À poetisa das rimas", de minha autoria. Posso vir a eventualmente postá-lo por aqui.
Em resumo, espero que este blog propicie uma cadeia mas estruturada e abrangente de meus textos e, principalmente, que produza resultado em termos de diálogo com outras opiniões e posicionamentos. Começarei com um poema em crônica que é uma de minhas mais recentes obras, entitulado "Sobre pensar-se".