sexta-feira, 29 de abril de 2011

21

Uma reportagem na Folha de São Paulo deste 29 de Abril falava do renascimento mercadológico do soul. Figuras como Amy Winehouse, Janelle Monáe e Adele Adkins trazem uma forte vertente contemporânea deste estilo, que já rivaliza com o rock e o hip hop no universo musical. Revitalizado, o soul dinamizou-se - vem embutido numa ideologia musical eclética, que busca ao mesmo tempo retomar suas raízes quanto aplicar uma dose de realismo estético na música, que vem cada vez mais mergulhando na tecnologia.
Inspirado nesta matéria, resolvi finalmente comentar o mais recente álbum da sensação musical do momento: Adele. A britânica de 23 anos encaixa-se exatamente na categoria de resgate das origens do soul, num estilo que lembra facilmente as divas da história da música, de Aretha Franklin a Celine Dion. Na verdade, dizem alguns especialistas que, com seu novo trabalho, Adele torna-se "the ultimate diva". Verdade seja dita, a artista acertou com perfeição no repertório: músicas que vão do jazz ao folk passando pelo r&b, executadas com precisão vocal imprescindível (diriam alguns, "she out-Whitneyed Whitney").
O fato é que Adkins conseguiu o miraculoso e raro feito de ser louvada tanto pela crítica quanto pelo público. Entre a intensa batida de Rolling in the deep e a melancólica tristeza de Someone like you, a cantora leva-nos a uma profunda viagem por nossos próprios sentimentos em onze faixas avassaladoras. São poucos os artistas que consigo citar na história da música capazes de falar tão intimamente ao ouvinte, em especial no que diz respeito ao tema do amor, quanto Adele o faz neste disco. Ouso dizer que suas letras são tão tocantes quanto aquelas de Lennon/McCartney ou Bryan Wilson.
A verdade é que não tenho palavras para descrever este álbum. Por isso, talvez, tenha citado tantos especialistas e críticos profissionais. Selecionar as melhores faixas é uma missão impossível. Talvez os singles Rolling in the deep, Someone like you e Set fire to the rain, mas todas as faixas são de qualidade imprescindível. Por fim, ao expor-se a este álbum o ouvinte depara-se com uma verdadeira obra de arte.

Título: 21
Artista: Adele
Lançamento: 19/01/2011
Gravadora: Columbia, XL
Produtores: Rick Rubin, Paul Epworth, Jim Abbiss, Fraser T. Smith, Ryan Tedder e Dan Wilson
Gênero: Soul
Faixas - Duração:
1. Rolling in the deep - 3:48
2. Rumour has it - 3:43
3. Turning tables - 4:10
4. Don't you remember - 4:03
5. Set fire to the rain - 4:02
6. He won't go - 4:38
7. Take it all - 3:48
8. I'll be waiting - 4:01
9. One and only - 5:48
10. Lovesong - 5:16
11. Someone like you - 4:45

Avaliação: Ótimo

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Impressão nascente

Vamos hoje cantar umas músicas
Que falam de clima nenhum
Sem lembrar de amor algum
Planando no alto dos céus
Sem saber das estrelas
Ou do fel.
Sabe aquele simples estado
De beleza,
Onde tudo que se faz
É contemplar?
Então...
Vamos ficar assim,
Só olhando a imensidão
De nada, qualquer coisa;
Escolhe teu tudo e fita-o
Como um aconchegante borrão.

Vidagem

(Escrito em 24 de Março de 2011)

Queria ser cada dia uma idade
Todas embaralhadas
Para banhar a velhice de juventude
E polir a mocidade com maturidade;
Gostar de tudo
E degustar o todo
De um mar de vivências
Como se elas viessem e sumissem
Na areia do ser
Concomitantemente.
Meu desejo é ser puramente um poema
Que passa por todas as mentes
Sem trespassar sua própria razão.

Turvante

(Escrito em 24 de Março de 2011)

Beba água com cinza de cigarro;
Faz em teu ventre brotar
Um ramo de pó
Que vai desfazer-te o estômago
E rasgar teu tempo
Em choupanas de dor
E rompantes de amor:
Mora nela e chora nele,
Perdendo-te nas entranhas
De um gole de poesia.
Ou só água turva.

Brasileirinho

(Escrito em 24 de Março de 2011)

Tem nessa mata
Uma aura de miragem
Como se o verde
Pintasse a mente
De paisagem.
Tem nessa rede
Pendurada no casebre
Um ar tão Brasil
Sobre um sertão de anil
E dourado
Que mancha as Minas
Fazendo a cidadela
Num céu de sol
Brilhar como estrela.

Salão

(Escrito em 24 de Março de 2011)

Dou-te minha mão
Pra você vir valsar comigo
Nesse salão robusto de velho
Com ladrilhos de madeira avermelhada pelo tempo
Rangendo sob os sapatos;
Nessa luz fosca de quatro da tarde de Rio
Amarelada pelos janelões poeirentos.
Tudo que te peço é uma simples dança
Sem malefícios e malícias
Banhada num ar de piano antigo
Nas nossas mentes e cantarolares.

Cantiga do leiteiro

(Escrito em 15 de Março de 2011)

Vem, poema,
Que eu te espero
Bem aqui no letreiro
Enquanto o leiteiro
Passa a cantarolar.
Vem, querido,
Que a viola
Espera a cantiga
Do sabiá.
Vem, meu bem,
Que eu quero
Aqui nesta guia
Beirando a calçada
Cantar-te pro leiteiro,
Pois este ouvinte
De tão atento
Prometo que vai
Conosco assoviar.