quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rockabye blues

Feito um tom madeirado
Ginga levado e de leve tragado
Num rockabye baby
Em contornos de sedução.
O ar meio fino e pesado,
Tipo nevoeirado,
Elevado num estado
Que só em doçura e desejo
Acha explicação.
O amor, meio sixties, sensual,
Hollywood carioca
Num Rio de Machado,
Um achado,
Aconchego achegado,
O rouco murmúrio em canção...
Ah, o amor é de fato gingado,
É bom assim deixado
No vibrado de um violão
Cujo som tange o chão.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Oxalá!

Tenho lembranças que não são minhas.
Curiosa a mente,
Com toda a ambiguidade de dizê-lo,
Que ousada desenha-se a si
Tomando uns brotos de tinta
De outrem aqui e acolá.
Até dela mesma se empresta
E enviesa metalinguística -
Metade pra lá, metade pra cá -
Metida na convicção
De que se revelará.

Oxalá!

Arte como é a mente,
Criadora de memórias
Divinificar-se-á.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Toda a gente

Toda a gente é um centrão de cidade grande,
Na estação aonde chegam tantas conduções
E de onde outras zarpam
Recheadas de gente.
Toda a gente é uma Catedral
Que por cima da multidão
Ergue-se gótica numa ótica encantada
Viajando rumo ao céu.
Toda a gente é feita
De gente que vem, que passa,
Que põe um bloco na construção
E leva uma foto pra viagem.

Só Deus sabe

Só Deus sabe
O aperto que dá
Ver um poema tão filhotinho
Ficar com falta de ar,
O dó que vem lá
Quando ele não consegue
Se musicar
E, nossa senhora,
Quando com cara de bossa
Ele não consegue acabar.
Fico só com vontade
De massagear o bambino
E pedir pra ele se acalmar
Que logo a meiguice retorna
E retoma um suspiro -

Ah...

Leve essa deixa

Bem que você podia
Deixar de penar nessa vida
E deixá-la levar,
Que eu prefiro te ver
Menos aflita
E mais nos apitos
De um samba
Em que você dance noviça
Com sorriso de chorinho
E passinhos de deixar pra lá.

domingo, 10 de junho de 2012

Suspiro em tamanho de agulha

Eu descobri que preciso
Te mergulhar no poema.
Preciso tanto que vou te afogar.
Ponha a tua cabeça
Dentro das minhas mãos
E aceite morrer.
Morra por fora,
Mas morra por dentro,
Para eu te retroceder
Na tua memória de infância
Durante a elefância
Do peso que a minha mão ceder
Por dentro do temporal
Do tempo sedento
Que a vida te der.

sábado, 9 de junho de 2012

Pêndulo

Pelo menos caixa d'água tem
Como bebedouro em gaiola
Que emole e enrola
Enquanto amola a sensação
De um viveiro alegre e colorido
No vespeiro cor-de-merda
E seus mais de vinte andares.
Pelo menos caixa d'água tem -
Já é alguma transparência
Em meio a tanto nicho refletor.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Réquiem

Quem não sente
Um Réquiem na respiração,
Sufoco de contramão,
Cansaço na escada,
A noite apagada
Feito uma bita torrada
Aos pés dos degraus,
Não sabe.
Quem não ficou descalço
Sobre o frio do chão
De camisola em frente ao vão
Dos contornos apagados
Da escadaria
Enquanto escala as paredes
Um uivado de calmaria
Só não sabe.
Quem não fitou
A risada malévola e esguia
Das correntes subindo
Pelo corrimão
Chegando reversas
E chiando vazias
Não sabe a solidão
Da morte vizinha.