segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ella me deixou

Ella deixou minha casa arrumada
Mas abandonada.
Ella arruinou minha vida
E pôs tudo em ordem.
Cantou minhas esquinas,
Lavou minha alma
E deixou minha realidade
Lisa e esbranquiçada.
Agora só imagino esse mundo
E me isolo em sua verdade
Enquanto a vida mundana
Fica apagada
Num outro lugar da memória.

domingo, 28 de outubro de 2012

Babilônia

Quando passei no portal da Babilônia
E cheguei aos seus palácios,
Quando vi seus jardins,
Suas ruas, suas festas,
Bebi do seu vinho
E tornei-me seu povo,
Esqueci das areias e estradas
Muro afora.
Os mistérios da Mesopotâmia,
Desde que vim a este mundo,
São só Babilônia;
Os enredos de todos os homens
São babilônicos;
Os reis de todo reino
São Nabucodonosor;
A Terra é toda Babilônia;
As estrelas lhe pertencem;
Tudo é sempre Babilônia,
Que chegou e passará
Eterna.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Estranha

Quando me vi
Uma vassoura atrás da porta
Escancarada
Encurralada
Rajada bateu
E eu, pau de arara,
Estatelada no chão
Desabrochada
Desenganada
Acordei
De uma consciência estranha.

sábado, 20 de outubro de 2012

Café com leite

Sonho dele
Sonho de leite
Que no açúcar
Enjoado deleite
Derreta
Qual cristais em café
Que a minha fé
É ferrenha, é de prata,
Que não se abata
Com a vertigem, os sons,
De tão virgem da vida
Bater a colher
E ecoar porcelana,
Mulher,
Na ventana de um sopro
Dos lábios que abanam
O calor que não quer
E colher em um gole
Uma gota doce
Num trago amargo
E um beijo liso
Que, aviso,
Desce quente,
Cremoso e al dente.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Aceite

Foi-se o cacho das amoras na foice
De amores que agoras douram em olivas.
Levou minh'azeitonas, fez azeite
E perfumou, e me banhou,
Envernizou minha careca,
Arreganhou meus olhos.
E de óleos e banhas
Que enxaguou
Se aceitou.