domingo, 29 de outubro de 2017

Fim do Mundo

Estou cansado
Porque me mentes;
Tu mentes uma mentira tão grande
Que quase todo o mundo acreditou!
Tu me mentes a mente
E eu cheguei muito perto
De acreditar nas palavras distorcidas
Da tua frente guerrática
Ditando frenética
Uma estática de status quo;
Eu quase cri natural a dialética
Posta na estética de ti -
Eu quase acreditei que a revolução não era necessária
Porque as revoluções passadas não se encaixaram
Na tua vontade planária.
Eu quase palíndromo subentendi
A tendência direita do quadro
Pendendo obrigado
Ao capital.
Mas morrerás
Pois o tempo mata os humanos
E com eles os sistemas.

sábado, 28 de outubro de 2017

Entorpecente

O que você faz quando o poema
Que era o escape
Virou a cara da sociedade
Tão plena
E o ódio que sentias por si
Virou senciente
Pra te enxergares repetente
Repetindo a vida num ciclo
Incompetente?
A minha vida é ser ente
Incompleto e corrente
Quer isso signifique profundidade
Ou estupidez entorpecente.

=)

Olá!
Eu fraquejei
E ficou difícil começar a recitar
Uma fala
Natural
Que não estivesse programada
Pra ritmar nossa conversa
Íntima
Próxima
Atravessada na tela do teu celular
Sem construir por cima
Uma camada de nada
Aconchegada num ego
Sobre o qual estou me debruçando agora
Pra te fazer se sentir em casa -
Uma casa que só de palavras resiste
Pensando que existe
Sabendo que só de pensamento ela consiste
Mas isso é consistência suficiente
Pra você sorrir

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Motif

A monção passa
E dá vazão à seca
Que escassa na voz
Espessa outra vez;
Eu me prostro ao revéz
Como a Meca
Num ritual azteca -
A crosta rente ao rostro
Pra cortar fora o sangue
Da carcaça da barca
Encalhada na terra
Pedindo que mangue
Uma tez de chuva
E floresça de novo
Minha lucidez.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O Tesouro

Corre tracejada no deserto
Respingada de enigmas virtuosos
E perguntas sem resposta
Uma trilha de pensamento grego,
Iluminista, comunista e feminista
Feito estrelas incrustadas na areia
Com a luz de pedras preciosas
E o brilho de líquido amniótico
Escorrendo a um lugar secreto
Onde a música árabe intercala com o samba
E o funk dissolve no soul
E as roupas são coloridas
E a maquiagem é optativa a todos -
Ali onde mesmo que a terra em volta rua,
Os alicerces da vida tombem de história
E a sociedade se destrua,
Ali continuará a arte do pensamento livre
Nos tesouros que não podem ser roubados
De dentro dos corpos que eu e minhas companheiras
Erigimos
Como cidade fantasma e oásis em meio ao Egito.

domingo, 22 de outubro de 2017

Descerebelo

Meu espírito é de metrópole
Mas meu ser é interior.
Meu fígado grita prédios quadrados
Enquanto o cerebelo cria um espaço
De fantasia:
Eis a estrela cadente da esquerda
Moderna e sem perspectiva.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Perda

Dentro de mim
Respira um só desejo
Que é o "não perder".
Se eu não perder esse momento
Eu vivo;
Se eu não perder essa pessoa
Eu vivo;
Se eu não perder esse sentimento,
Se eu conservar esse grito
Dentro da conserva do mito
Ele não apodrece
Mas aquieta em formol.
E então de que vale o infinito
Se engarrafado ele se desentendeu?

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Fléxico

(Making of Cyborg - Kenji Kawai)

Flutua
Reconexa
Infectada do desinfecto
Que desturva o intelecto
Em nova coesão
Inda que impura mais reflexa
Da nossa condição

Levita
Desconcreta
Potencializada na impotência
D'outrora agora em consciência
Do mantra sistêmico
Que te prendia abjeta
Num pensar/viver endêmico

Flua
Em curva
Contra a flora
Transplantada
No teu seio
E transforma o meio
Em floricultura
Fazendo a estrada
Em líquida escultura
Do teu ser a transcorrer
Pela tua pele e pela rua

sábado, 7 de outubro de 2017

Drama

Deixa o meu drama rolar
Que talvez nele
Haja uma verdade para mim
E outra para ti.
Deixa que talvez
O exagero das palavras
Seja o ninho em que recito
A dor que o mundo todo
Sente enclausurada num espinho
Enfiado no cantinho
Do peito incomodado.
Deixa a noite esclarecer
O que o dia iluminado
Pelas trevas do entender
Ignorou.

Rimado no Espelho da Idade

Tua juventude nunca vai voltar
É melhor que se acostume
Com esse papo velho
Que aconchega na cerveja
Mas não passa de um sonho ressecado
Desse teu físico acostumado
À ignorância que deseja
Um corpo novo um pouco mais sério
Ignorando o estrume
Do tempo que sempre vai passar.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Criação

Dedico meus dias à criação
De uma camada externa no pensamento
Selando a carne no sal grosso
Pra que fique no centro
A maciez sangrenta e rosa
Envolta numa casca mastigável
Porém resistente ao fogo
E assim ser às bocas mais saborosa.
A minha criação é deliciosa -
Quase sempre fácil de recitar
E até de se identificar -
Afinal ela é filha de palavras fortes
Com a sensação de fraqueza,
E de terras muradas e no entanto desertas
O mundo está cheio.
O mundo são grades cerradas
Por onde tentamos alcançar
Receosos do toque
E a minha criação quis ser
O Éden limítrofe entre esses portais.
O meu pensamento
É o encontro dos morros
Na depressão do vale
Onde correm os rios
E floresce a mata ciliar
Onde os bichos aquietam e bebem;
Na fronteira sedimentosa
Onde as montanhas dissipam;
Na corrente em que a carne resfria
Deixando que leve o seu gosto salgado
Escoado no mar.
A minha criação é o ciclo do mundo;
É a lavagem do que não se lava;
É o gosto amargo da água impura
De uma mente obscura
Buscando acalanto ao relento
Sabendo que a busca
É o que encontrará.