segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Meu Tempo

Meu tempo
Meu tempo
Meu tempo...
Devo sempre me lembrar
Que meu é o tempo.
Minha é a obra de vida
A linha torta e garranchada
Que se fia em poesia
Escorrida da borda da mesa
Meu vaso de água doce e inodora
Que verte num instante
E jaz perene no assoalho
Na madeira
Na seiva que sobe
E floresce
E deságua em néctar
E suor das folhas.
Meu tempo
Meu tempo
Meu tempo...
Meu é o segredo
Meu é o trago de sossego
Meu é o toque
Que sente as folhas secas
As pedras do caminho
E a brisa fresca
Que escalam debaixo da pele
No corpo que sente o mundo
E o mundo que o sente.
Meu tempo
Meu tempo
Meu tempo...
Meus são os olhos que deito
Sobre a terra em que me recinto
Meu é o vagar de pupilas lentas
Que escolhem parar
Sobre as coisas mais vagas
E insignificantes
E significadas
Que a minha mirada foi desencontrar.
Meu tempo de ser
Meu tempo de amar
Meu tempo de desenganar
Meu tempo de me desarmar
Das armas de tempo
Que me quiseram forjar
Contando histórias
De um tempo que eu não quis passar;
Agora é meu tempo
E nele eu me descompasso
Em tempos outros
Menos escassos.