terça-feira, 28 de julho de 2020

Os Sonhos dos Reis

Os meus sonhos ultimamente
Têm sido povoados por ruínas.
Vejo neles uma fria luz
Milimetricamente calculada
Para fender a existência em duas
E deixar-me do lado de cá,
Longe do infinito,
Enclausurado nas mortalhas de um tempo de tantas promessas...
Tantas promessas vãs!
Vejo Ozymandias,
Epaminondas e César
Alinhados sem glória rente ao chão,
Seus corpos cobertos por túnicas jeans,
Levando consigo ao reino da morte um celular na mão.
Vejo as estátuas de bronze
Derretendo em fusão cor de ouro,
Vejo as cinzas brancas como a própria luz
Evaporando a minha visão.
O fim do sonho se aproxima
Mas sinto que não despertarei -
Pressinto que ficarei para sempre na linha fina de claridão
Desenhada para meus olhos
E minha silenciosa respiração,
Entre vida e pesadelo,
Entrelinhas e calafrios
De despertar do escuro
E encontrar na luz só mais breu.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Dormência

Sinto inerte uma parte de mim
Como se o sangue já não corresse sob a pele -
Mas não esta epiderme que sinto contra o caderno. Não:
É a derme da alma que jaz dormente
De um sono mordido e sugado
Sem beijo de redenção.
É o sono profundo do espírito
Que hiberna para se preservar
Da seca do mundo, da seca das almas,
Da seca da própria vida
Que se me parece retroceder
À mecânica do sobreviver.
Sinto morrer a utopia
O desejo
O próprio fogo quente da alquimia
Em nome dos olhos secos
Que possam resistir ao olhar da Medusa -
Se bem que talvez este seja o sentimento de petrificar.
A verdade é que a morte há muito venceu,
Instaurando seu breu sobre a vida
E cobrindo de cova a alegria.
A verdade é que o horror já nos acometeu de paralisia
E o espírito humano se perdeu.

Mas...

Talvez ainda agora, invocado por nome,
Ele tenha tremido debaixo da terra inerte de mim.