quinta-feira, 16 de julho de 2020

Dormência

Sinto inerte uma parte de mim
Como se o sangue já não corresse sob a pele -
Mas não esta epiderme que sinto contra o caderno. Não:
É a derme da alma que jaz dormente
De um sono mordido e sugado
Sem beijo de redenção.
É o sono profundo do espírito
Que hiberna para se preservar
Da seca do mundo, da seca das almas,
Da seca da própria vida
Que se me parece retroceder
À mecânica do sobreviver.
Sinto morrer a utopia
O desejo
O próprio fogo quente da alquimia
Em nome dos olhos secos
Que possam resistir ao olhar da Medusa -
Se bem que talvez este seja o sentimento de petrificar.
A verdade é que a morte há muito venceu,
Instaurando seu breu sobre a vida
E cobrindo de cova a alegria.
A verdade é que o horror já nos acometeu de paralisia
E o espírito humano se perdeu.

Mas...

Talvez ainda agora, invocado por nome,
Ele tenha tremido debaixo da terra inerte de mim.

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