O espirito da minha sombra se enche e se espaça na noite deserta do meu esquecimento.
A luz da candeia se incendeia tão pouco -
É quase nada envolta na grossa penumbra
Da fuligem que ela mesma exalou.
E eu não entendo...
Não entendo como retorno
A esse desencontro
Que me é tão encontrado.
Eu não me entendo...
Eu sou todo um universo de gavetas
Guardadas no guarda-roupa do espaço
Desarrumado em caos desachado.
Eu sou alguma coisa que o cadafalso ainda não revelou.
E nessas horas em que me deparo
Despido perante a lua,
Descoberto de mim,
Revelado, enfim...
Nessas horas me sinto tão Eu
Que quase queria não ser.
Queria outras coisas mais,
Mas meu antigo descompasso ainda me atina,
Ainda afina nas minhas palavras o descontínuo diverso de mim.
E eu, endividado de vida,
Me perco retornado
De uma perdição sem caminho,
Rodando em falso
Feito um redemoinho.
Mas algo no meu giro se-me remove...
Algo se locomove
E comove uma nota em declive.
Ouve, melancolia velha,
O canto que te canto
Com essa voz;
Essa voz que é minha
Ainda que nascida da tua -
Mas que da tua raíz suspendo e elevo.
Ouve que com essa voz manifesto
Um som que vaza do meu profundo
Dizendo do alento -
Dizendo que o sono não é mais que um pensar desatento,
Uma hipnose obscura que se-me enfeitiça quando se ancora no meu pensamento.
Contra tua fúria eu sou pensares distintos -
Eu sou dos fluxos contrários
Pupilo e rebento.
E de tanto ouvir teu sussurro
Cantado no escuro do apartamento
Eu já te aprendi as passagens
E despertei do teu encantamento.