sexta-feira, 18 de março de 2011

Spaghetti

O velho mundo
Aguça o sabor da vida
Com a lembrança de um dia ensolarado
Num olival dos Apeninos,
Ou um fim de tarde num café
Da Champs Élysées,
Como uma pitada de parmesão e orégano
Sobre o molho rosé.

domingo, 13 de março de 2011

Poesia requer mel

Vocifera, bem, uma voz graúda;
Pois, bem, ela é nada.
Tens de falar tal qual Almodóvar
Para serdes ouvido.
De resto, restamos nós,
Gritantes feito cigarras
Na terra da coruja.
É, bem, somos cactos de cágado frouxo;
Sabemos só de tragédia romântica
E gritaria espalhafatosa.
Há de Almodóvar
Pouco demais no mundo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Presto e adagio

Viola na mão
Dispersa no allegro
Perde seu rumo
E vai
Desfazendo seus fios
Descumprindo seus ritos
Gritando extravios
E se vai
Feito lascas na explosão
E um rompante de som
Que morre na imensidão.
Andante, sonata... Andante.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Num relance

Ele vê-me, no fim, e vai,
E eu que era desabrochada
Viro casulo
Num mar de casulos
Perdidos no parque
Pisoteados no seu caminhar.
E aqui, como louça quebrada,
Faço uma prece passar pela mente;
Faço a vida passar como prece.
Faço a louça remontar-se
Nos passos da mente
Que vê seu futuro
Num estranho a passar.

terça-feira, 1 de março de 2011

Amorosamente

O sentimento mais bonito
É aquela sensação de amor triste
Que some na mente
Como um mar de ondas lentas
Que vêm, arrastam pra dentro
E depois libertam,
Tudo tão suavemente.