quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Violetas

Viola um som
Que eu sei de coração.
Ele vai e canta choroso
Lembrando um cheiro de jardim
De violetas simples,
Assim, de floreira.
Lembra do floreio roxo
E um rouxinol a passar,
Lembra do teu rosto rosado
E do teu rosar.
Canta de rochedo
E do mar que bate
E leva a varanda
Pra uma vista lá
De passarinho a cantar
Bem depois da água,
Do sal e do sol,
Bem longe da cantiga triste
Que rebate no peito
E releva no efeito
As violetas murchas
E violas velhas
A desatinar
No desafino.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Hermafrodita

É fálica a cidade,
Fatídica de ferocidade.
Alegremente abre-se,
E de tão leve
Vive igual metade
Que se encontra
Num encaixe
De felicidade
Numa humanidade
Afrodisíaca
Plena.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cai bem

Desdém
Que cai bem
Numa noite quente,
Sinos de Belém
A quem tem
Por quem tocar.
Mas este desdém
É um mais além
Que o aquém desdenhar;
Ele desenha de amor
E esvoaça em calor;
Desdenha da lua
E do meu pensar,
Perdendo os contornos
Em só em estar;
Quente e escuro;
De ninar.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Jorra jarro

Jarro dourado e branco
Que tanto há lavado
Meu corpo, meu enfado,
Minha pele resfria
Em lisa corrente
Sobre o calor.
Toca meu lado,
Meu seio, meu claro,
Doura-me o rosto,
Limpa minhas mãos,
Cobre meu olhos,
Molha os cabelos
Com água prateada.

Jarro que hoje quebrado
Jorra em barro,
Pedaços de louça,
Trincados de ouro,
Na sala, no quarto,
Na cama, nos cacos,
Nas gotas deitadas
Em estilhaços
Colados no assoalho,
Oleados em jorro espalhado
Que lavo do chão
Lacrimejado.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Vindos sem idos

Ai, morosidade
Dos dias sem idos
Vindos silenciosos
E lisos,
Desnudos,
Felpudos
E tontos
Rodando no ar
Como anoitecer
Que resvala constante
Até alvejar sutilmente
Num recomeço
De dia sem par,
Sem sair do lugar.

Calmaria

Se eu pudesse
Ser de lá
Sereia sem trela
Estrela do mar
Estuário santo
Santuário bambo
Levitando berimbau
São seria,
Santa iara;
Das mazelas
Não faria
Minha nau,
Meu corpo em céu;
Navegaria padroeiro
Pela areia
Do meu véu
Esvoaçando na brisa
De um sacro-eu.