quinta-feira, 24 de julho de 2014

Feitiço

Estou fazendo um esforço enorme
Para apagar tudo de bonito que ficou do passado.
Essa beleza me enoja.
Prefiro que caia nas graças dos deuses,
Que esses entendem de destruição
Onde nem o homem consegue alcançar.
Prefiro ser um deus
Por quem se derrame sangue no altar.
Prefiro ser bicho.
Prefiro ser um pedaço de carne para o bicho rasgar.
Prefiro ser passarinho morto.
Prefiro ser caos.
E se tentar me organizar, pré-firo tua consciência,
Pois sou tão absurdo que entre deus e caos
Até o futuro consigo enxergar.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Laissez-moi, je t'en prie

No roxo escuro da noite
Abastada de luzes artificiais
Demais para apagar por completo
E deixar a lua, por si só, ser lua
Não me permito esquecer em excesso
As primícias de quando fui
Antes de puído,
Outrora lírio noturno,
Primeiro dos sonhos...
A cor de vinho no céu da boca
As manchas nos dentes
A pele gasta
E os olhos arranhados
São os maiores sinais
Da minha madrugada
Insone, maculada,
De uma vida inacabada
Pigarreada na fumaça que estilhaça,
Colhida sem perdão,
Tombada,
Tumbada,
Forçada...
A rouquidão dessa noite de cidade
É a minha prisão.

domingo, 13 de julho de 2014

De raíz

Eu tenho um amor pra cada canto do Brasil.
Eles não sabem...
Sabem nem de mim.
Mas com amor é melhor assim,
Dado em pedacinhos
Distribuído como beijinho
Em festa de aniversário
E feito em segredo
Como se fosse questão de defesa nacional.
No momento é disso que preciso;
Plantar uma mudinha de emoção
Em cada canto de peito
E torcer que cresçam pra ser
Um coração gigantesco
Do tamanho da minha terra
E ter cheiro de orvalho.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Cerra serra

Dai-me mais de beber do vinagre
Faz-me mais amargo por dentro
Acelera o passo
Paço del diablo
Na catedral dos anjos
Corredeira no rio de escadas
Fluindo do altar
Del capital
De la lengua
L'enguia dos males
Guia
Fobia dos novos ares
Que doem nas asas ossificadas
E penas seculares em idade
Caindo, enfim, no cerrado.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Polterzeit

Multitarefas
Multimentes
Multiamores
Mutilado
Muito translado
Para pouco transespírito
Trans-in-tornado
Furacão
Descarga
Vômito
Câncer
Saboroso
Delicioso
Corpo
Morto
Vivo
Quase
Rijo
De prazer
Ou frio
Ou calcificado
Não importa.

Há uma semiconsciência ao meu lado.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Le succès

Ontem tive pesadelos acordado
De homens que me seduziam na penumbra
E flutuavam como anjos (ou demônios)
Sobre meu corpo congelado.
Ontem eu tive vontade de viver
Como se nada mais que o sexo importasse
Como se perfurasse a couraça de pele do corpo
E desse meu todo aos lindos fantasmas ao meu redor.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Dormência

Um poema para dormir
Para me por no chão
Bater na cabeça
E apagar essa sensação de doença
Que vai comendo os rins
Destruindo o pulmão
Sem causar dano aos tecidos
Mas corroendo a emoção
Matando sinapses
E destruindo meu poder de comunicação.
Meu corpo está velho, já não dá mais;
É hora da metamorfose chegar
E me transformar em alguma outra coisa
Mais leve
Sem mente
Sem sono
Sem medo do escuro
Sem sabe lá que corrente é essa que passa nas veias
E diz que é vida.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Caroço

Dor de peito não é
Parada cardíaca
É paralisia cerebral
Quem vive de amor
E sabe como funciona a dor
Sem lenga lenga de caroço
Entende esse moço
Que sofre de sabe lá
Talvez um fosso
Um poço cheio de fulanice
Babaquice colorida
Do caldo grosso que corre nas veias
As teias velhas
Do quase nada
No entanto muito.

Tábata

De saltos
Faltas
Maltes
Males
Falos
Vives
Andas
Corres
Morres
Errado demais...
A vida é errata falaz
Constante
Comprazente
Detergente e gordura
Pura
Diria loucura
Se não fosse sóbrio demais
Dizê-lo.