sábado, 1 de agosto de 2020

A Fenda

O mundo inteiro escorre
Numa lágrima de sangue
Desde a mata ciliar dos meus cabelos
E embaça o terceiro olho
Em minha testa
Dividindo-me em narinas
Bocas
Seios
Um átrio esquerdo
E um vazio direito
Perfeitamente desequilibrado
Em corpo.

Respiro.

O mundo escorre sobre o ventre
E cinde o sexo
E cinde ao meio
Descendo as coxas
Os joelhos
Até a planta dos meus pés.

O mundo inteiro veio
Até meus pés
Me levantar
Sondar
Beber
E conceder meu ar;
O mundo veio levitar
Ao meu alcance
Pra quem sabe desfazer exangue
O meu fender.

Eis a minha oferta,
O meu dizer,
O meu fazer.
Que seja sacrifício digno
Do aceder.

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