Pena que já foi o rapazinho atravessar o oceano.
Peno para lembrá-lo nas docas,
Mas as poucas tocas em que se escondem
As memórias fotográficas
Já não saltam tão recentes;
As imagens são tão penas
Que na brisa e maresia
Fáceis saem a levitar oblíquas.
Tenho às vezes que elas vão
Buscá-lo na terra nova
Sobre as águas de Pasárgada,
Com seus elefantes de ouro
E as colinas de Montoya
Onde, reza a lenda, mora a tribo azul,
Caçadora de lembranças.
Tenho que, se de lá sobreviverem,
As valquírias de papel o encontrarão
E trarão de volta para uma conversa.
Mas tem dias em que acordo e recordo
O sacrifício feito com meu corpo
Na viagem que passei.
Meu rapaz, pobre rapaz,
Não virá me procurar aqui zarpado e acorrentado
Nas ondas escuras das montanhas
Encrostadas em paquidermes
Pintados num presente emoldurado de mar,
Tão leviano quanto o flutuar de pena.
segunda-feira, 26 de março de 2012
terça-feira, 20 de março de 2012
Poleiro
Falta a sua pausa na minha mente,
A clave do meu som
Que no dia algum ruído silencie
A poluição do vai-e-vem.
É isso que eu quero,
Seu canto de passarinho
Que tão solenemente
Recobria minha gaiola
Feito manto de pernoite
A nas asas de um vadio empoleirar
Dar um estio escurecer
Na luz do dia
Que por hoje já cansei de ver brilhar.
A clave do meu som
Que no dia algum ruído silencie
A poluição do vai-e-vem.
É isso que eu quero,
Seu canto de passarinho
Que tão solenemente
Recobria minha gaiola
Feito manto de pernoite
A nas asas de um vadio empoleirar
Dar um estio escurecer
Na luz do dia
Que por hoje já cansei de ver brilhar.
sábado, 10 de março de 2012
Gemada
Tudo tão calo
Nos pés e nas mãos
Que não dá pra ficar calado.
Quiçá tivera blasfemado
E o galo parasse de doer a cabeça.
Mas em canto ou silêncio
Já fiz heresia demais.
Como de costume,
Não há que falar ou calar,
Só doer com panos quentes
E torcer que a rouquidão
De grasno torto
Grunha um gemido completo
Feito gemada com clara.
Nos pés e nas mãos
Que não dá pra ficar calado.
Quiçá tivera blasfemado
E o galo parasse de doer a cabeça.
Mas em canto ou silêncio
Já fiz heresia demais.
Como de costume,
Não há que falar ou calar,
Só doer com panos quentes
E torcer que a rouquidão
De grasno torto
Grunha um gemido completo
Feito gemada com clara.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Poemística
Mede pra mim umas palavras
de talhagem nova.
Quero estrela supernova
bordada com requinte no meu bolso
no melhor estilo marechal de campo,
que eu possa apresentar
como os velhos sargentos americanos
do Vietnã.
Aliás, quero uma praia como aquelas vietnamitas,
ou filipinas, das que se vêem bonitas
mesmo em cenas sórdidas de guerra.
Gosto dessa beleza que perdura
sobre o tempo e sobre os homens.
Por isso quero supernova
e palavras.
quarta-feira, 7 de março de 2012
Brumas setentistas
Pouca coisa é tão certa
Quanto é esbelta
A emplumada bruma
Que na gruta dubla
Sarita e Monroe
Por trás da cortina
De veludo e vapor
No escuro
Sob a luz de um globo em cor
A brilhar na noite e no suor.
Quanto é esbelta
A emplumada bruma
Que na gruta dubla
Sarita e Monroe
Por trás da cortina
De veludo e vapor
No escuro
Sob a luz de um globo em cor
A brilhar na noite e no suor.
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