A canção começa suave
Num piccolo flautim
Muito antes de estourar nos tímpanos
Em furiosa reverberação de câmara.
O tom da clave
Destranca como chave antes de arremeter
E quando chega enfim o arrebate
É tão maior que o som que a cabeça
É capaz de receber;
É tão maior que o vão
Que ele veio preencher.
Daí fica a questão:
É melhor o silêncio ou o ensurdecer?
terça-feira, 30 de agosto de 2016
domingo, 28 de agosto de 2016
Vago e Lume
Dentre todas as sensações que já sobrevivi
Minha preferida é a melancolia alegre -
Aquela saudade que bate por absolutamente nada,
Desapegada de gentes e instâncias,
Recordando apenas a si
Num presente ligeiro que se pensar desaparece.
Não é felicidade porque é triste;
Não é tristeza porque é feliz;
Não é neutra porque reluz.
É o sentimento de vagalume ritmado,
Que não pisca no batuque porque ouviu o batucado,
Só porque seu piscar é, em si, musicado.
Minha preferida é a melancolia alegre -
Aquela saudade que bate por absolutamente nada,
Desapegada de gentes e instâncias,
Recordando apenas a si
Num presente ligeiro que se pensar desaparece.
Não é felicidade porque é triste;
Não é tristeza porque é feliz;
Não é neutra porque reluz.
É o sentimento de vagalume ritmado,
Que não pisca no batuque porque ouviu o batucado,
Só porque seu piscar é, em si, musicado.
sábado, 27 de agosto de 2016
Electric Faraway
I am so sorry, my love -
É assim que dizemos?
É assim que se faz as pazes?
Rapaz...
Eu não tenho razão para isso não.
Não passo de borboleta
Nesse furacão;
Quem sabe a farfalla vendeta
Do mundo em monção.
Que ridículo...
Se me barrara a vida com tua versão,
No barro tua história estaria pela minha mão
Depois de deixar teus lábios.
Eu me desculpo por nada -
Eu me refaço do outro lado do mundo
E você so far fará o que lhe couber
No balanço das minhas asadas.
É assim que dizemos?
É assim que se faz as pazes?
Rapaz...
Eu não tenho razão para isso não.
Não passo de borboleta
Nesse furacão;
Quem sabe a farfalla vendeta
Do mundo em monção.
Que ridículo...
Se me barrara a vida com tua versão,
No barro tua história estaria pela minha mão
Depois de deixar teus lábios.
Eu me desculpo por nada -
Eu me refaço do outro lado do mundo
E você so far fará o que lhe couber
No balanço das minhas asadas.
terça-feira, 23 de agosto de 2016
Detritos sem gosto
Éramos, em níveis muito similares,
Péssimos um para o outro.
Também fomos ótimos, isso é claro,
Mas a perfeição se encaixava nos erros
Quase como se o destino se desejasse fatal.
Há dias em que desperto otimista
Noutros não,
Mas hoje regresso com olhar redundante
Procurando nas frestas das emoções o óbvio
Que me esmerei em ignorar.
A verdade de hoje é que não sei quanto cresci e decresci
Através de ti;
É que não sei quanto te amei
Enquanto te acusava de indiferença -
Se a minha ausência foi puramente um reflexo
Ou se a rebatida era o capuz que sobrepus à minha distância.
A verdade é que comecei a esquecer nosso tempo juntos
Muito antes do que antes admiti -
Muito antes do que antes percebi;
A verdade é que há muito tempo que te esqueci:
O que ficou em mim foi o "que" de mim
Ansioso por um futuro, qualquer futuro,
Com ou sem ti
E consenti nas ilusões passageiras do momento
Um passado agradável à minha dor,
Ao meu amor egoísta
E meu dessabor pelo outro humano.
Péssimos um para o outro.
Também fomos ótimos, isso é claro,
Mas a perfeição se encaixava nos erros
Quase como se o destino se desejasse fatal.
Há dias em que desperto otimista
Noutros não,
Mas hoje regresso com olhar redundante
Procurando nas frestas das emoções o óbvio
Que me esmerei em ignorar.
A verdade de hoje é que não sei quanto cresci e decresci
Através de ti;
É que não sei quanto te amei
Enquanto te acusava de indiferença -
Se a minha ausência foi puramente um reflexo
Ou se a rebatida era o capuz que sobrepus à minha distância.
A verdade é que comecei a esquecer nosso tempo juntos
Muito antes do que antes admiti -
Muito antes do que antes percebi;
A verdade é que há muito tempo que te esqueci:
O que ficou em mim foi o "que" de mim
Ansioso por um futuro, qualquer futuro,
Com ou sem ti
E consenti nas ilusões passageiras do momento
Um passado agradável à minha dor,
Ao meu amor egoísta
E meu dessabor pelo outro humano.
sábado, 20 de agosto de 2016
Jangada-eiro
(Piano trio in E-flat, op. 100 - Franz Schubert)
O corpo recoberto de resina por dentro
Escorrega frouxo da alma
Que o segura pelo freio,
Mas o puxão na boca não acalanta.
A alma morcego estabana
E o corpo fantasma levita a cada pancada alada por dentro.
O corpo desgarrado adormece nas extremidades desalmadas,
Relaxado demais para relaxar.
O relaxo desanda nas correntes da alma
Que zarpou numa jangada ao seu próprio encontro
Enquanto o corpo é forçado a aceitar
Que a ideia de alma é tão morta
Quanto o passado a que tanto se apega;
Quanto o freio que tanto puxa para voltar;
Quanto a volta que nada mais é que parar;
E o corpo se contorce tentando almar;
O corpo remexe e cada remelexo é em si a ilusão.
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
Dança do espelho
(Sama-sounounou - Le Trio Joubran)
Eu desejo mergulhar no espelho
Para ver do lado de lá
Os defeitos, macro e micro,
Expelidos pelo tempo e a incompletude
Que um simples reflexo não é capaz de mostrar.
Eu quero ouvir minha voz refletida
Reflexivo
E como imagem desintegrar o objeto;
Quero me sujeitar ao dessujeito
Para me revificar menos abjeto,
Para descamar meu enredo das chagas,
Para lavar os pólipos
E dançar direito.
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Paraís...
Veja! Valhalla está cheia de guerreiros!
Pedreiros, lixeiros, catadores,
Drogados, famintos, prostitutas,
Vagabundos, escravos, lavradores,
Trombadinhas, violentadas, trabalhadores,
Favelados, mendigos, migrantes...
Mas onde está Valhalla, que não vejo?
Pedreiros, lixeiros, catadores,
Drogados, famintos, prostitutas,
Vagabundos, escravos, lavradores,
Trombadinhas, violentadas, trabalhadores,
Favelados, mendigos, migrantes...
Mas onde está Valhalla, que não vejo?
sábado, 13 de agosto de 2016
A Gota
Eu sofro das gotas
Que a mente me aplica medicinalmente.
Eu sofro de gota
De gole em gole
Me obrigando a ser quem sou
Eu sofro da gota que sofre por conta própria
Eu sofro do sofrimento que não é sofrimento
Eu sofro da dor que não dói
Eu doo do doer que não me corrói
Eu não me engulo.
Que a mente me aplica medicinalmente.
Eu sofro de gota
De gole em gole
Me obrigando a ser quem sou
Eu sofro da gota que sofre por conta própria
Eu sofro do sofrimento que não é sofrimento
Eu sofro da dor que não dói
Eu doo do doer que não me corrói
Eu não me engulo.
Las mujeres son de agua
Las mujeres son de água
Santas escorridas,
Santas bulerías.
Cada qual um ritmo
Que embala mi corazón;
Cada qual uma irmã, una mãe,
Um canarinho que canta uma canção específica,
Cada qual una persona mia
Que reconosco
E desconheço tan bien
Cada qual una deusa de si
Simetralmente desconstruída
Fundindo-se en la confusão.
E yo soy una estúpida pedra.
Santas escorridas,
Santas bulerías.
Cada qual um ritmo
Que embala mi corazón;
Cada qual uma irmã, una mãe,
Um canarinho que canta uma canção específica,
Cada qual una persona mia
Que reconosco
E desconheço tan bien
Cada qual una deusa de si
Simetralmente desconstruída
Fundindo-se en la confusão.
E yo soy una estúpida pedra.
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
Há mar (Do verbo haver no infinitivo mar)
(Lonesome Road - Madeleine Peyroux)
Eu entro no amor
Como um carioca mergulha no mar:
Tomo um banho salgado,
Às vezes um caldo,
Daí preciso de um tempo pra respirar,
Sentar na canga,
Sujar a bunda de areia,
Entrar na ducha pra lavar,
Pegar um bronze pra queimar
E bora dar outro mergulho.
Arial Trebuchet Times
Texto cibernético
Sibérico por excelência
Subiria à cabeça
Se não tivesse nascido no talo;
Sairia do ralo
Se não tivesse ralado na mente
De alguma forma,
Mesmo superficial.
Superficializa
Como corpo morto
Saído da expoente profundeza
Da natureza humana
Natureza nova
Anti-natural
Quase animal
Se animal fosse fonte.
Sibérico por excelência
Subiria à cabeça
Se não tivesse nascido no talo;
Sairia do ralo
Se não tivesse ralado na mente
De alguma forma,
Mesmo superficial.
Superficializa
Como corpo morto
Saído da expoente profundeza
Da natureza humana
Natureza nova
Anti-natural
Quase animal
Se animal fosse fonte.
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Despoema
O dia de hoje amanheceu desinteressante,
Finalmente!
Despido dos excessos posso relaxar,
Escrever sem obrigações, intenções ou mensagens;
Posso escrever um poema tão neutro que sua própria existência questionará;
Posso apagar o cigarro sem temer filtros ou metáforas;
Posso regredir e descrever em paz.
Finalmente!
Despido dos excessos posso relaxar,
Escrever sem obrigações, intenções ou mensagens;
Posso escrever um poema tão neutro que sua própria existência questionará;
Posso apagar o cigarro sem temer filtros ou metáforas;
Posso regredir e descrever em paz.
domingo, 7 de agosto de 2016
Ministério
Eu tenho um ministério
Dado por Deus
E ele é errado.
Eu tenho um ministério, graças a Deus,
E ele é errar
E mostrar para os "certos"
O quanto errar é de Deus.
O meu ministério é errar tanto
Quanto não conseguirá ser quantificado.
O meu ministério é dizer que somos todos fracos
E não ouvir Deus até que seja certa a surdez.
Eu entendo e sou a surdez:
Ela é tão infinita e mutável quanto o silêncio.
Dado por Deus
E ele é errado.
Eu tenho um ministério, graças a Deus,
E ele é errar
E mostrar para os "certos"
O quanto errar é de Deus.
O meu ministério é errar tanto
Quanto não conseguirá ser quantificado.
O meu ministério é dizer que somos todos fracos
E não ouvir Deus até que seja certa a surdez.
Eu entendo e sou a surdez:
Ela é tão infinita e mutável quanto o silêncio.
Sobredeusa
Eu sou a deusa
Mas você, fofa,
Linda,
Gata.
Diva,
Rainha,
Maravilhosa,
Supersticiosa da carne,
Carne que sobrevive ao chão em que pisa,
Cria muito mais poderosa do que eu, que inteira a vida numa internação mais profunda,
Você é infinitamente mais deusa do que eu jamais seria.
Você é sobre-deusa.
Deusa
Per
Se.
Mas você, fofa,
Linda,
Gata.
Diva,
Rainha,
Maravilhosa,
Supersticiosa da carne,
Carne que sobrevive ao chão em que pisa,
Cria muito mais poderosa do que eu, que inteira a vida numa internação mais profunda,
Você é infinitamente mais deusa do que eu jamais seria.
Você é sobre-deusa.
Deusa
Per
Se.
sexta-feira, 5 de agosto de 2016
Sete versos
(Weary Blues - Madeleine Peiroux)
Sete dias no sanatório
E eu não me sanitizo.
Sete anos que viralizo
E ainda vivo.
Sete versos encantados que viso,
Mas é difícil saber se o encanto dura tudo isso
Ou se, durando, não é só loucura.
quinta-feira, 4 de agosto de 2016
Confissão
Gosto de fingir que minhas emoções não são transparentes.
Afinal, ignoro completamente as sensações alheias,
Revirei o ego num escudo fino
Para me cegar do mundo.
Mas a verdade é que sou tão transparente
Que até o ego invertido reflete em fraqueza.
Eu sou um efeito estufa de dor, amor e solidão.
Afinal, ignoro completamente as sensações alheias,
Revirei o ego num escudo fino
Para me cegar do mundo.
Mas a verdade é que sou tão transparente
Que até o ego invertido reflete em fraqueza.
Eu sou um efeito estufa de dor, amor e solidão.
A resounding case of love that aches
Embora não seja o caso,
É a esponja embebida em vinagre
Acético embalsamando os lábios
Mumificados.
Embora não tenha causo,
É a sede que se renova cada dia,
A ressurreição que mata,
O arcanjo munido de adaga
Guardando a tumba.
É o rapto do céu
Que me discipulou
Embora não chegue a ser caso.
É a esponja embebida em vinagre
Acético embalsamando os lábios
Mumificados.
Embora não tenha causo,
É a sede que se renova cada dia,
A ressurreição que mata,
O arcanjo munido de adaga
Guardando a tumba.
É o rapto do céu
Que me discipulou
Embora não chegue a ser caso.
quarta-feira, 3 de agosto de 2016
Destranca
Partiu, cambada?
Cambaleada,
Bamba pós-baleada,
Postumada,
Babalorixá mandando desencarnar,
Partiu?
Dê a partida,
Bora destrincar.
Cambaleada,
Bamba pós-baleada,
Postumada,
Babalorixá mandando desencarnar,
Partiu?
Dê a partida,
Bora destrincar.
terça-feira, 2 de agosto de 2016
Choreio
Foram infinitas as convulsões
E - posso chamar de monções se eternas?
As chuvas infinitesimais caíram sem regar -
Água salgada não dá vida.
Mas, se cabe tanto mar num só marinheiro,
Quem vai dizer que no mar não pode nascer um salgueiro?
E - posso chamar de monções se eternas?
As chuvas infinitesimais caíram sem regar -
Água salgada não dá vida.
Mas, se cabe tanto mar num só marinheiro,
Quem vai dizer que no mar não pode nascer um salgueiro?
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
Delegação
Vá e delegue partes da dor
Em outros pedaços de mente -
Vá que essa dor já é grande demais
Pra segurar num corpo só;
Vá que as gentes não sabem lidar.
Faça uma vaquinha
De muitos inconscientes
E torça que haja força suficiente
Em cada pedra do terço que apertar;
Vá e torça o cordão negro-perolado
E espere que a reza o sustente,
Pois, se rasga, nas sementes esparramarás.
Em outros pedaços de mente -
Vá que essa dor já é grande demais
Pra segurar num corpo só;
Vá que as gentes não sabem lidar.
Faça uma vaquinha
De muitos inconscientes
E torça que haja força suficiente
Em cada pedra do terço que apertar;
Vá e torça o cordão negro-perolado
E espere que a reza o sustente,
Pois, se rasga, nas sementes esparramarás.
Sentimentocópia
Eu vou roubar tuas palavras
Ousado, de orgulho ferido mas calado
Fingindo a beleza delas em mim
Porque, quem sabe,
Vai que o teu sentimento,
Esse livre movimento,
Esfregue e pegue no fundo do peito
Me eleve e leve enfim
Eu leve na cabeça
Uma mania de caretas engraçadas
Que mesmo surrupiadas
Se apeguem ao meu jeitinho.
Ousado, de orgulho ferido mas calado
Fingindo a beleza delas em mim
Porque, quem sabe,
Vai que o teu sentimento,
Esse livre movimento,
Esfregue e pegue no fundo do peito
Me eleve e leve enfim
Eu leve na cabeça
Uma mania de caretas engraçadas
Que mesmo surrupiadas
Se apeguem ao meu jeitinho.
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