sábado, 20 de agosto de 2016

Jangada-eiro

(Piano trio in E-flat, op. 100 - Franz Schubert)

O corpo recoberto de resina por dentro
Escorrega frouxo da alma
Que o segura pelo freio,
Mas o puxão na boca não acalanta.
A alma morcego estabana
E o corpo fantasma levita a cada pancada alada por dentro.
O corpo desgarrado adormece nas extremidades desalmadas,
Relaxado demais para relaxar.
O relaxo desanda nas correntes da alma
Que zarpou numa jangada ao seu próprio encontro
Enquanto o corpo é forçado a aceitar
Que a ideia de alma é tão morta
Quanto o passado a que tanto se apega;
Quanto o freio que tanto puxa para voltar;
Quanto a volta que nada mais é que parar;
E o corpo se contorce tentando almar;
O corpo remexe e cada remelexo é em si a ilusão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário