sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Frondo

Num dia longe no passado
Um anjo fitava a Terra
Cansado do Céu.
Olhava e invejava a mortalidade das coisas lá;
Desejava um amor mortal.
Desceu
E decidiu plantar uma pequena muda
No quintal da minha casa.
Era tão formosa e cheia de vida...
Robusta e verde.
Ele a amou assim como era
E regou de amor por muitos anos.
E foi crescendo a árvore frondosa
Até que frondou demais -
Os galhos geraram tripas expostas
E frutos secos junto aos vivos;
As cores já não eram as mesmas,
O tronco entortou arranhando o telhado
Que rangia nos ventos noturnos
Um som de assombração.
Mesmo assim por um longo tempo ele ficou
Regando um fantasma que cada vez mais consumia
Até que o anjo, seco, secou.
Mas as asas murchas já não podiam levá-lo ao paraíso.
Despiu-se delas, que sou, e foi romar à procura
De algum outro Céu feito de terra.
Não sei se o encontrou.
A casa segue gemendo
Debaixo das asas mortas
Que saem da copa da árvore
Batendo raramente,
Apenas quando o vento passa por suas tiras.
Morta por dentro de esperança
Ela parou.
Mas olhando aqui de frente pela varanda
Até que gosto de como ela ficou.

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