sexta-feira, 30 de junho de 2017

Poema Pat Ente

Pat
Patrício
Ter famílias
E pato
Poema arcaico novo
Que num mesmo verso escava
A escandinava floresta
E o broto de areia
Evoluindo por travas
Como a raíz que sa-
Pateia

Desencarnado

Bravura indomada das vidas passadas,
Vem e acende uma luz sobre minha guerra;
Ascende meu transe,
Que a transa jaz morta na infindade.
Vem e transforma minha estabilidade em vida
E me comove em sangue antigo
Já que ancestral minha pele se move;
Vem e cativa minha finitude
Prendendo a alma à carne,
Pois a vida me pôs em demasiada encruzilhada:
Ou encarno, ou sonho
E eu de pronto desencarnarei.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Flaumata

Ruído de flauta
No silêncio da mata
Enquanto a pauta abstrata
Tamboreia entre as atas das folhas
Fluindo sem pressa
Na neblina leve
Do começo do dia -
Já é dia de quietude outra vez na floresta do meu ser.

domingo, 25 de junho de 2017

Liebesgedicht

Eu tenho um poema escondido
No meio da poemicidade
E do nada
Entre uma música e o silêncio
No momento em que paro
Para um gole de vinho
E um trago de cigarro
Quando paro de amar demasiado intenso para respirar
Quando penso demais
Na próxima rima
E volto a amar

De repente um poema de amor

Porque próprio, interno
E reflexo
Porque amor é cada vez mais um lapso
De autoconsideração e espasmo
E o que mexe fora
É só orgasmo
Cujo sentido sobra em si mesmo
Mas carece de versos
Para um poema que fosse de amor.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

O Rosnado da Razão

Eu andava com meu amor na calçada
Do lado esquerdo da rua
Quando de repente do outro lado da via
Apareceram os boinas marrons
Quebrando o restaurante libanês,
O Bar das Sapas
E o café irlandês de onde acabara de sair.
Eu temi
Que me tirassem meu amor
E minha roupa
E despido do pudor eu mergulhasse
Na primeira poça suja que aparecesse no caminho
Fugindo do terror.
Mas atrás de mim surgiram os boinas vermelhas
E me aliviei -
Ali estavam os defensores da liberdade
Pra proteger o meu amor sozinho.
Só que logo em seguida eles quebraram um banco
(Até aí tudo bem, no banco só se assentam privilégios)
E depois um carro
E uma delegacia.
E por mais que se voltassem contra áreas que não me sensibilizam
Comecei a notar nessa nova multidão
Uma pulsão de ódio
Que de alguma forma me incomodou
Especialmente quando percebi
Que começava a derramar
Na direção marrom.
Desenhava-se um conflito
E eu ou jogava meu amor escondido nos escombros
Ou morria ali mesmo
Na Alemanha dos anos vinte
Como se não tivesse opção
Entre rosnar em massa
Ou raciocinar longe da praça.

domingo, 18 de junho de 2017

Templário

Grande vida
Quando é tão minúscula
Que nem a História consegue observar.
Grande,
Grande vida!
Quando a vida é tão diminuta
Que dentro do seu espaço
Não consegue se conservar.
Grande,
Tão grande o minuto
Em que vives
Até o ponto em que mesmo templário
Não consegues o tempo contemplar.

domingo, 11 de junho de 2017

Cru

Contudo me contundo
E me confundo
Como se no fundo
Com tudo que me mudo
Fosse cru.

sábado, 10 de junho de 2017

La Noche Acabó

Estou cansado de fazer o jogo humano
E diminuto complacer os despassados.
Houve no tempo um outro deus
Que como eu iluminou
A passagem terrena
Mas ele não quis mais conversar
E o papo foi diminuindo no bar
Até que a cerveja acabou
E aí também o que fazer depois que a última garrafa secou?
Como é ridículo o destino
Que me fez entre as gentes
Um dos mais apaixonados pela boemia
E no final só quer me fazer pagar a conta.

sábado, 3 de junho de 2017

Berberes

Eu sou a último expoente
De uma geração perdida
Entre vidas comidas
Pelas duas Eras
Momentâneas.
Eu estou êxtase
Das extremidades
E, graças a Deus, Êxodo.
Eu sou o exílio entre as terras do tempo
Como o vento na areia -
Eu sou o berbere perdido no deserto.