quarta-feira, 21 de junho de 2017

O Rosnado da Razão

Eu andava com meu amor na calçada
Do lado esquerdo da rua
Quando de repente do outro lado da via
Apareceram os boinas marrons
Quebrando o restaurante libanês,
O Bar das Sapas
E o café irlandês de onde acabara de sair.
Eu temi
Que me tirassem meu amor
E minha roupa
E despido do pudor eu mergulhasse
Na primeira poça suja que aparecesse no caminho
Fugindo do terror.
Mas atrás de mim surgiram os boinas vermelhas
E me aliviei -
Ali estavam os defensores da liberdade
Pra proteger o meu amor sozinho.
Só que logo em seguida eles quebraram um banco
(Até aí tudo bem, no banco só se assentam privilégios)
E depois um carro
E uma delegacia.
E por mais que se voltassem contra áreas que não me sensibilizam
Comecei a notar nessa nova multidão
Uma pulsão de ódio
Que de alguma forma me incomodou
Especialmente quando percebi
Que começava a derramar
Na direção marrom.
Desenhava-se um conflito
E eu ou jogava meu amor escondido nos escombros
Ou morria ali mesmo
Na Alemanha dos anos vinte
Como se não tivesse opção
Entre rosnar em massa
Ou raciocinar longe da praça.

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