Eu não presumo estar bem resolvido
Ou não acreditar em tudo que já foi escrito
Nos meus cadernos
Com tantas canetas que hoje secas
Preferem deitar nas gavetas
E deixar que a digitação crie alguma distância
Entre a letra e o letrante,
Como se fosse menos gritante o sentimento
Quando os is não são pingados à mão.
Eu não presumo estar bem resolvido,
Nem afirmo sem sombra de dúvida
Que a atual solução não é doída
Ou que o sopro da memória do teu semblante,
Como espasmo errante da minha mente doida,
Não espante eventualmente a esperança
De ser novamente encontrado
Por um corpo que aberrante me acalme
Ao ponto de dar à calma o nome de alma
E fingir finados os problemas
Crendo haver abraços capazes de acalantar doenças e dores -
Sendo, portanto, um detestável portador de fé -
Com o perdão dos que, como eu, são crentes.
Eu não presumo estar consertado,
Encontrado,
Perfeitamente instruído sobre como tenho me construído
Ou sequer confortável,
Mas há algum conforto.
Hoje eu consigo ficar absorto por horas de ti
Sem deixar a saudade apertar a laringe
Ou a Esfinge propor questões que não podem ser respondidas
Sem mergulhar no inferno de antes,
Quando eu ainda não era o que sou -
Não que hajam aqui metáforas de renascimento
Ou crescimento, apenas o tempo mudou.
Eu sou de feridas que só fecham no distante
A todo instante - tenho péssima cicatrização -,
Mas encontrei um momento onde
Parece que sou outra vez de romance
Apesar de desilusão
E desse minuto de equilíbrio
Quis arrancar um poema constante, centrado
E de alguma forma possante,
Se ao menos na sinceridade e na aliteração.