Eu queria poder me convencer que estou em fermentação
Trancado no barril sob o chão
Num porão escuro
Ambientado à minha maturação
Mas eu me sinto avinagrando entre os vermes
Soterrado por projetos e objetivos de passado
Como se o tempo só fizesse piorar a qualidade do produto,
A alma podre e o corpo vindo logo atrás
Enquanto a caixa pesa sobre a pedra
Fazendo dela areia movediça
Avançando na direção errada
Sem que o erro seja em si uma confrontação
Do certo obscuro que se espera de mim.
A certidão não me cabe
Mas o vazio não me completa -
Eu sou inconcreta
Mas não o suficiente para transitar entre formas;
A sociedade me afeta
Com suas palmas estendidas fingindo me salvar
Puxando pelo pescoço para fora do fosso.
Eu sou sensível demais ao toque
Ao ponto de avermelhar
E rasgar o verbo contra os homens
Esperando deles cicatrizes na minha pele fina e transparente -
Mostro logo então o esqueleto sem terminações nervosas
Que contra ele nem as pedras do enterro
Podem se levantar.
Eu não serei enterrado vivo,
Eu não irei!
Eu não me deixarei levar pelas correntes
Para virar comida de fungos no leito do rio!
Eu rio na cara do perigo inevitável
Que me olha nos olhos
Ameaçando de miséria, de doença e solidão -
No fim meu riso é tudo que tenho.
quinta-feira, 31 de agosto de 2017
O Riso do Porão
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