(Alessio Bax - Zion hört die Wächter singen (From "Cantata Wachet auf, ruft uns die Stimme", BWV 140))
Encontrei um lírio no campo
Que ficava ali no seu canto
Entre outros tantos
Cabisbaixo como eu.
Fazia um esforço desgramado
Para não cruzar olhares
Com as outras flores
E correr o risco de expor a cor
Escondida no seu centro.
Se dizia cuidadoso
Ou exigente
Ou quiçá muito amoroso
Para a polinização inconsequente.
Mas a bem da verdade
O lírio amarelou
E temia descobrir nelas
O vermelho em carne-viva;
Temia pois sabia, lá no fundo,
Da igualdade que compartilham
E da solidão que vem
Ao se descobrir parte de um conjunto
Onde as semelhanças aproximam
Mas também afastam;
Sabia, enfim, que em toda flor a cor esfria na beirada,
E de pétalas geladas se faz um jardim arredio.
Que sorte a minha, então,
Que sorte a minha, então,
Ver o lírio ali no chão
Onde meus olhos residiam
E achar refletido nele o olhar
Do qual, de tanto me esquivar,
Eu já me cria foragido.
Eu já me cria foragido.
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