sexta-feira, 15 de março de 2019

Tolice

(Maria Bethânia - Negue)

Não sei quem é mais tolo:
Eu, por acreditar
Em qualquer coisa que fosse
Escondida atrás do teu falar;
Por vender meu carinho
Tão barato na rua
Havendo em mim um poço tão fundo
Onde despejar meu próprio amor;
Por esquecer que esse profundo
Só eu sei sustentar;
Por me deixar vazar em excesso no mundo
E pagar sozinho a conta do furacão...
Ou você,
Por não entender a rota dos rios da minha vazão;
Por não saber o tão pouco e pequeno
Que eu cria que você sabia.
Não... Tolo sou eu.
Já vivi o suficiente para entender
Que o meu coração tensiona
Com força demais para sobrar espaço
Para a compreensão.
Eu compreendo.
Eu sei que o mundo é bruto
E rasga a carne de quem se mostra.
Eu sei que saber de amor
Não é pouco nem pequeno
- Me desculpe pela acusação;
Na verdade é uma construção
De anos seguindo um mesmo caminho
A partir de um ponto fixo
Que só eu conheço e conhecerei.
Amor, afinal, no genérico como o digo,
Não é nada generalista -
É o meu amor
Como os deuses quiseram que eu.
Eu entendo
E hoje sou forte o suficiente
Para não sofrer por me abrir
E dar de cara num muro;
Hoje atravesso muros e sigo em frente
Satisfeito com o fato que, por um segundo,
Desmaterializei tuas defesas
E aprendi você.

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