segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
Lua Azul
Azul
No meu estômago.
Ela, que no anzol
Se alfinetou,
Derrete em lágrimas
De leite de violeta,
Perolando perfurada
Sob a égide de Atena
Nas noites de profunda escuridão.
Mas, ainda que a pena dependure
Sob a infinda solidão dos céus,
A lua lamuria doce
Seu riso púrpura.
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
Tortuoso arranho da bile
Meus passos tortos
Garrancham anseios no chão
Remendados numa convicção apiedante.
Pobre, pobre ser humano
Que segue perdido
Crendo-se achado
Acachapado pelas demandas
Das suas próprias escolhas.
A autoilusão da certeza
É o único remédio possível
A quem caminha com os próprios pés;
A fé é o único mecanismo
Que consegue sobreviver na negação.
Mas eu não nasci com a bênção
Dessa maldição.
A mim restam as palavras distorcidas
Corroendo o estômago
Até escorrerem em bile
Sobre as respostas do mundo
E derreterem os alicerces da Terra
Para reciclar como fungos
A decomposição das tortuosas vias
Da fé,
E quem sabe nesse exercício
De agarrado aos teus pés
Te arrastar para o inferno
Da tua humanidade
Eu consiga encontrar por uns instantes
Uma paz cruel e verdadeira.
domingo, 12 de janeiro de 2020
Mundificado
Pálidos são os timbres da minha voz;
Polidos de mundo, soam-me inconsistentes.
Parece que regredi ao estado em que as coisas
Afoitas se misturam
Sem encontrar seu tom em meio ao som do frenesi.
Parece que mundifiquei meu ser
Até a saturação
E agora falta um pouco de mim.