Sou as linhas em que me descrevo.
Não surpreende este credo -
Creio-me há tanto poeta em primeiro lugar
Que outra ideia não se me poderia conformar.
Mas as linhas que fio
Puxam-me em mil direções;
Por vezes opostas,
Noutras sequer nas mesmas dimensões
Em que a carne se dispõe.
E as linhas são aço macio
Que não se rompe,
Uma seda masoquista
Na qual se me confino
Um prazer infinito
De ser objeto e sujeito
Das suas minhas tensões.
Aranha e mosca num mesmo instinto,
Amor e sexo num só resumidos
Sem se negar entre si suas contradições.
Eu sou as palavras que vaticino
E também seus efeitos
E suas prévias razões.
Eu sou todos os aspectos da narrativa,
Sou a poesia que prego
Em carne-viva
Contra a cruz que carrego
E a mensagem que alego
Por sobre a coroa
Do corpo que entrego;
Sou o pecado e o perdão.
E já não distingo entre as minhas partes
Os fios que encadeiam a composição;
Que venham, que sejam,
Que se entendam na teia da vida!
Dentre os ditames da existência
Não há nada que diga
Que o cadenciamento de contos
Se deva confinar à razão
De escolhas sem paradoxo.
O absurdo é, no fim, a premissa
Por trás do começo de toda poesia.
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