quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Toda ilha é um homem

 "Nenhum homem é uma ilha", eles dizem. Mas
Toda ilha é um homem.
Coberta de espessa penugem
Ela respira pesadamente
Afastando o mar no seu trago arfante
E mergulhando nele ao expirar.
Ela recita pra si as lembranças do dia:
Duas xícaras que fumegaram nuvens no céu
Zarpando entre aqui e acolá
E um corcel que relinchou indomável
Debaixo do oceano, mas
Fora isso
Nada de muito importante.
Toda ilha é cantante
Debaixo do silêncio grosso
Que corre no vento da selva
Carregando um estranho alvoroço
De espíritos selvagens e cigarras incessantes
A incendiar um hino exultante
De mata ciliar sitiada.
Toda ilha é uma fome danada;
Um anseio da coisa talhada
Da farpa arrancada
Da veia rasgada
Da mata torrada de um sol que não se põe por nada -
Por que esse sol não se cala?!
Por que não me para
Em noite amenizada
Num jorro de brisa que esfria no calor do ventre
Guturalizada?
Toda ilha navega, mas
Sua navegação indigente
Parece ao olhar inocente
Ilhada.

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