domingo, 28 de fevereiro de 2021

El dulce sonido del nada

(Los Panchos - Lo Dudo)

¡Que falta me hace el amor!
Quisiera tenerte en mis brazos...
Tenerte a ti, ¡quienquiera!
Quisiera hacerme tuyo
Y hacerte mío
Y hacernos tan sencillamente uno
Como lo es el aire,
Que no existe
Pero aquí está
Tocandome indecible
Sin sonido más que su pasar.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Subitamente me descobri livre

Subitamente me descobri livre.
Foi estranho...
A liberdade me soou como uma estranha prisão
Onde eu me vi trancado para fora de mim mesmo.
De repente aquele conforto que eu me criara
Para me blindar da vida externa
Desmoronou em pedaços
E eu me encontrei nu -
As cicatrizes expostas,
As estrias visíveis
E a barriga redonda sobrando ligeiramente,
Sua dobra rompendo a harmonia do corpo,
Mas ainda insuficiente
Para ocultar-me de mim as vergonhas.
Repentinamente encontrei-me ridículo,
Infantilizado,
Fragilizado e dependente,
Agarrado às minhas pernas num choro premente.
Encontrei-me como há muito não me encontrava
E tive em mim o desconforto de interagir com o desconhecido -
E o desconhecido era eu.
Mas não foi só isso que estranhei.
Ainda mais estranho foi descobrir-me no desconecto
Muito bem conhecido,
Como se, passados os instantes do encontro inicial
Entre meus eus,
A liberdade tivesse fundido
Um novo compromisso,
Uma nova compreensão mútua
E meus pólos se olhassem dizendo:
"Sim, é verdade, cá estamos, e sempre fomos assim.
Ontem mesmo me disseste isto,
E eu te respondi isso outro.
Em verdade não há nada de novo aqui;
Em verdade nada descobrimos
E descobrimos tudo."
Tudo que encontrei na liberdade foi estranhamento -
E o estranhamento me encontrou.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

O Trilho

Estranho como a mente tem vias
Que levam direto a sentimentos inesperados.
Estranho como o retorno a casa
Depois de uma noite de risadas
Traz uma inesperada tristeza,
Uma melancolia de monção
Que invade de repente
Sem causa aparente
E toma de assalto a emoção.
Estranho como o inconsciente
Manda comandos prementes
Que demandam embarcar
Num caminho de vivência
E autocompreensão.
Estranho como eu acabo entrando
Num trilho vazio que leva a nada
Olhando ao longe um destino
Que sei caminho certeiro,
Mas sabendo que a mim só compete
Ver aqui diante de mim
Os veios da madeira
E os longos gumes de aço,
E saber que são trilhos
E equilibrar-me em seus traços
Em meus passos
E agir como se compreendesse
O final da via
Quando tudo que sei
São seus mais singelos desvios.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Escamote


(Zbigniew Preisner - Offertorium)

As rochas
Que fui
Vão
Desfeitas nas intempéries
Das ondas e ventos
Que escamoteiam no movimento:
A brisa sopra -
E não mais;
A onda espuma -
E passa.
As rochas que fui
Vão sendo refeitas
Em ondulantes cata-ventos
Que voam gentis e suaves
Em danças errantes,
Descompassadas
No embalo do tempo.
As rochas que fui
São areia:
São grãos de pedra
Sólida e brilhante,
Minúsculas partículas de nada
Unidas em infinitude.
Sou rocha e sou água,
Sou forjada de fogo
E polida de vento.
Eu sou o infinito da vida
No finito do alento.