Se ao menos houvesse no mundo
Uma penumbra de luz
Onde as penúrias obscuras da alma
Se escondessem iluminadas,
Expostas,
Enamoradas no encontro encantado
Do sonho com a realidade...
Se ao menos do ser humano
Houvesse um pedaço de humanidade
Onde os desejos retintos
Transparecessem
E se amolecessem,
Extintos pelo seu próprio desfazer
Mergulhado em prazer,
Engolfado em alegrias e lágrimas
Que escorressem por sobre meu Ser
Sem dúvidas ou convicções...
Se ao menos as assombrações do espírito
Se materializassem
E caíssem maduras como frutos famintos,
Ávidas por cultivar o chão
E brotar nele a vida que nasce da morte rarefeita
E enfeita a boca da terra
Com as flores da sua eclosão...
Se ao menos dos sonhos restasse
O pedaço do nada
Que transita entre o sono e a vigília
E me desperta com tudo que me completa,
Se ao menos desse lodo de inconsciência
Desabrochasse um fado
Cantado nas vozes secretas da realização...
Então eu estaria encontrado,
Restaria enfim contradito
Na minha declamação
E a vida teria sentido
E eu poderia morrer.
Mas, do fundo desse meu luto
Repleto de contemplação,
Ainda brotaria incompleto
Um ramo de perturbação;
E enraizado nele eu reviveria
Um anseio abjeto
Que me incomodaria uma grata nova caução
Que eu perseguiria
A bordo da minha nau
Navegando as violentas ondas do mundo
Num eterno estado de confrontação.
segunda-feira, 10 de outubro de 2022
Desejos de Vida e Morte
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