Vamos, vamos, meu amigo,
Façamos as coisas dessa maneira.
Já se disse - ou talvez não disseram -
Que quem ri por último,
Ri primeiro.
Sejamos, então,
Ridículos.
Patéticos.
Sejamos os romancistas de esquina,
Que jogam seus panfletos incendiários
No meio da rua
Para que, ensopados e amassados,
Eles sejam lidos apenas por ratos.
Sejamos os gatos que caçam sem cão
E apanham apenas novelos de lã.
Sejamos a linha seguinte do verso
Que esquece a rima
E acaba rimando o reverso.
Ria-se, meu caro amigo,
Do completo desastre em que te hás colocado.
A perdição, afinal, também é um achado!
O poema perfeito,
Te digo sem nenhum julgamento,
É o poema do perfeito otário.
Brinque-se, então, de escrever
E viver
E amar.
Brinque-se de declamar!
As cidades estão cheias de loucos
Profetizando em alto e bom tom o fim do mundo.
Façamo-nos loucos!
Sejamos mais um dos que gritam
A plenos pulmões
Seus sentimentos caducos.
Façamos poesia da morte do poema!
Façamos amor na calçada em Moema!
Rasguemos o livro e quebremos a pena!
Amanhã os garis recolhem os resquícios da festa,
Catando o papel picado que desceu a valeta
Até chegar em Borborema.
E, acabado o carnaval,
Prometo-te muita seriedade
Nos novos andores;
Muitos ardores poéticos austeros,
Muitos pensamentos severos.
E também amores - todos bem modernos.
Atuaremos outra vez no Municipal
Entregando uma performance monumental.
E mal lembraremos das nossas antigas juras
De sentimentos eternos
Correndo logo abaixo do nosso sucesso
Nas entranhas do Anhangabaú.
Ficarão somente os resquícios da festa de hoje:
Será tudo como papel crepom
Picotado, vencido e apagado,
Feito uma piada sem nexo.
E ficará, é claro, este riso
De quem se entregou por engano
E viveu seu erro por completo.