segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Santuário

Tudo que sou fui a dois;
Tudo que fluí da mão esquerda
Ou escorri da direita;
Tudo que o tronco alcança;
Tudo que me balança;
Tudo que imóvel verti na terra
Caiu liquefeito na minha cabeça,
Passou pelos olhos - o de lá, o de cá, os dois -,
Trançou a serpente que trago no nariz,
Gelou o pescoço
E desceu pelas palmas abertas,
Vez ali, outra acolá, volta e meia em fluxo conjunto;
Tudo que toco é revolto,
Envolto na nuvem de mim - a pele que, enfim...
Eventualmente fui a três,
Mas os terceiros não bastam;
São cabeças demais para o corpo.
Melhor ter o suficiente para Salomão dividir
E para Nietzsche convergir.
Não quereria ser um,
Decapitado encontrando um fim.
Prefiro ser anjo da morte
E decrépito alternar a regagem da relva
Do meu jardim,
Jazido feito pedra, instável na base torta
Em que fui depositado,
Santificado de mãos abertas.

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