sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Mortália

(Symphonic Études, Op 13. Theme - Robert Schumann)

A técnica do amor
Incomove o sensual

O meu dessaborerótico
Mescla na carnificina
Maquinando um sexo visceral
Desplugado da eletricidade
Que... Corre?
A onde?

O desconecto é geral
Apaga a luz e o corpo
E foge num feixe rastejante rumo à terra
E se esconde
Nas tripas da mãe mais carnal
De barro rosa
Desconforto
Confortável
Descomunal

O desamor é um nicho sexual

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Belanço

Mais barulho, por favor!
A destreza do distúrbio me arrasa num
Preciso de fúria balançosa

A rasura dessa prosa
Não me apruma, só me atroça

Só no grito das palavras insignificantes
Ouço o montante
De uma vida a galope

A vida que rondante
Arredonda a mente
Arranca meus pés da frente dos passantes
Pra não cair da passarela
E saber voar ainda um tempo
- Pouco tempo parco -
Bela

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Rosa

A minha existência é tão repleta de emoções
Que eu já não conheço o que vivi uns dias atrás.
A minha vivência é tão intensa
Que
Olhando pra trás
Eu não me reconheço.
Pra mim a vida é tão poderosa
Que viver só pode ser um tom de rosa
Que abrocha e morre
Num ramo eterno
E num porre.

Olho

Abra tua alma
Ela está fechada demais
Abra teus olhos
Vou fitá-los fundo
Fundo
No profundo
Teus olhos estão aprisionados demais
Quantas vezes já disseram que os olhos
São a porta da alma?
Quantas vezes você já se escancarou?
Aposto que nunca.
Eu tenho olhos poderosos
Para arrancar dos seus olhos a essência
E você desvia o olhar.
Olha nos meus olhos.
Compartilha nosso olhar.
Enfia a mão imagética no meu profundo
E deixa eu nadar no teu nada
Olha me olha te olha
Olho no olho
Avassalador
Assanhado puro amor

domingo, 13 de novembro de 2016

Voltário

Os sentimentos têm uma mania irritante
De se repetir
Como se os anos, passando,
Pensassem não pensar;
Como se o ponteiro atirasse
Religiosamente
Sempre no mesmo lugar
E os tiros se multiplicassem
Na mesma ferida;
Como se as palavras não se cansassem
Do infinito acúmulo
De plágio sobre plágio
Sobre plágio
De folhas tanto reviradas
Buscando estancar a sangria de tinta
Que nunca acaba -
Essa maldita caneta que não se cala
Essa mão que não para
E a emoção que não vaza
Numa só derradeira vazão
E abre mão.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

As Horas

As horas passam
E o silêncio não.
As amizades correm
E o desejo
De permanecer calada

São.

O relevo das montanhas
Não
Eu relevo as piranhas
Bom...
Bom mesmo, bem?

Bem mesmo faz a danação ineterna
Bom mesmo é aclamação.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Lamentação

A dor é velha,
Velha,
Velha...
E a razão nem parece
Tão plausível.
A emoção é tão risível...
E eu já não tenho caução.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Áquogutural

Virando a curva do rio
Há uma corrente perigosa
Que leva a um lugar desconhecido.
Até eu o desconheço, que estranho...
O que será que tem lá?
Que morte dolorosa
Ecoa nos sussurros da curva?
Que sofrerei na dobra
Quando a torrente me puxar torcida
Pelo braço
E me afundar na água negra de descompaixão
Que, contam os mitos,
Arrastam os fracos para o escuro
E os fortes para sabe lá onde?
Devo testar a minha podridão?
Provar o corpo na imensidão de possibilidades?
Devo sumir no canto da selva?
A correnteza me puxa como ímã
Enquanto os xamãs guturalizam que não
E eu mergulho a mão na liquidez do destino.