Na raça
Sua vida
Que a vida não perdoa
Se você titubear
Arranca no talo
A significância
E rança
Que mais vale a estanca apodrecida
Se for vivida
Que a sangria infinda.
Trabalho com emoções.
Quando elas faltam,
O espaço fica vago
E eu vago
Pelo setor das sensações e pensamentos
Que talvez não mereçam tamanho ganho
No vagão.
Eu fico a ver trens
Clicando o trilho no seu passar.
Eu vejo no céu nublado
A uniformidade de um céu limpo,
Como se o ar sujo demais
Sobrasse ao ponto de azul desbotado.
Eu vejo demais -
Cores em demasia -
E ser multicromático
Me impede de ver a mundana vazia
Da realidade;
Eu preciso da imprecisão errática
Destrabalhada
Pra atabalhoada estabanar tropeçada
Na fática fada
Que jaz subjacente à estática
De ser.
Hoje eu tive um entendimento material
Do quanto diminuí -
Do quanto, em meio a infinitos versos pedindo para desincorporar
E sumir,
Inúmeras palavras recobertas de vergonha ou desolação,
Eu de fato reduzi a mente
E destruí o pensamento.
Hoje eu vi posta diante dos meus pés
A destruição do ser que outrora vivi -
Fui o sentimento aflito
De não encontrar termos
Para descrever a química balançando dentro de mim;
Eu me descobri desprendido de mim;
Descobri que recoberto de trauma
Eu não me escondi do mundo,
Apenas daquilo que nesse mundo um dia abri.
E o pior é saber que na alma fechada
O que eu desejava matar
Foi a única coisa que manti.
Eu não te contaria
Com palavras escancaradas
O que eu faria
Com mil carnes
Envolvendo minha alma escapista;
Eu não falaria
Das minhas fantasias;
Eu calafria;
Eu dessabedoria
Até virar enguia elétrica
De víscera espinhosa;
Eu escaparia de escapar -
De ser alma vazia -
Até virar um corpo
De flexível pedra
Balançando um choque térmico
Até a Oceania
E no pacífico me enterraria viva
Tramando desconexa mergulhada na água fria.
Hoje o violão não tem corda, meu bem
Não me toca que o corpo anda desafinado
E o desafio de trombar no espaço vazio
É demais pra ornar.
Eu não canto em nenhum canto de colo
A minha antisserenata arredia
E eu prefiro desatar os nós das cordas retorcidas
No afinador
No silêncio da minha frieza autocontemplativa.
Eu prefiro ser linha desligada das curvas,
Pousar somente as minhas mãos junto à bacia
E lá dentro sussurrar sem harmonia.
A jovem tartaruga
Anda lenta no lamaçal
Drenada pelo chão macio e a casca dura
Afundando vagarosamente na seiva da vida
E sonha ser serpente
Arrancada dos antigos pés
Para suplantar a terra com o calor da barriga
E arranhar a vida com escamas dobradiças;
Para ter veneno quente escorrendo da saliva
E olhos de cristal arregalados
Vertendo sobre o mundo sua visão de sobrevida,
Uma deusa de rasante sabedoria.
A tartaruga, então, encolhe e brilha no casulo
Sabendo que só na escuridão do seu porto seguro
Ela pode serpentear.