terça-feira, 3 de outubro de 2017

Criação

Dedico meus dias à criação
De uma camada externa no pensamento
Selando a carne no sal grosso
Pra que fique no centro
A maciez sangrenta e rosa
Envolta numa casca mastigável
Porém resistente ao fogo
E assim ser às bocas mais saborosa.
A minha criação é deliciosa -
Quase sempre fácil de recitar
E até de se identificar -
Afinal ela é filha de palavras fortes
Com a sensação de fraqueza,
E de terras muradas e no entanto desertas
O mundo está cheio.
O mundo são grades cerradas
Por onde tentamos alcançar
Receosos do toque
E a minha criação quis ser
O Éden limítrofe entre esses portais.
O meu pensamento
É o encontro dos morros
Na depressão do vale
Onde correm os rios
E floresce a mata ciliar
Onde os bichos aquietam e bebem;
Na fronteira sedimentosa
Onde as montanhas dissipam;
Na corrente em que a carne resfria
Deixando que leve o seu gosto salgado
Escoado no mar.
A minha criação é o ciclo do mundo;
É a lavagem do que não se lava;
É o gosto amargo da água impura
De uma mente obscura
Buscando acalanto ao relento
Sabendo que a busca
É o que encontrará.

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