(Julia Jacklin - Comfort)
Deu vazão.
Não sei por quê, mas deu.
Subitamente me senti fragilizado
Como há tempos não sentia
E não entendi
Se foi o livro que lia,
A música que ouvia
Ou só o sino que zunia
No meu templo
Em um tom doloroso.
Há algumas simetrias dos sentidos
Que simplesmente acontecem
E sua perfeição dói de chorar.
Não há o que fazer
Quando os astros se alinham
E deixam o céu vazio
Para todo o conteúdo se concentrar
Num ponto ínfimo
Onde sobra cor
Enquanto o resto do firmamento
Se confina à imensidão de ser.
Às vezes a vazão vem
Simplesmente pela observação;
Mas também só de constatar
O céu já se reilumina
O suficiente para suspirar,
Engolir o nó,
Secar os olhos
E voltar a sorrir
Um sorriso frágil e molhado -
Transparente.
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