segunda-feira, 29 de abril de 2019

Carnália

Tarde da noite os mantos me visitam
E se deitam no meu entorno
Estendendo as mangas sobre meus olhos
Quase translúcidas.
A lua brilha quente debaixo das pálpebras
Uma luz vermelha semicerrada
No primeiro portal
(Onde os vultos esgueiram
E se escondem em relances)
Que se fecha aqui
Para abrir acolá.
Os mantos me abraçam
Em águas do Styx
E escoam rumo à esfinge
Enterrada em areias passadas
Paralisada na margem
Despida de suas asas.
Os mantos me drenam
A outra paisagem
E voam no vento a me cantar
De um futuro distante a ecoar
Nos uivos do medo e da perdição.
Os mantos me arpoam
À passagem da loba
E me amamentam de presente,
De entranhamento e devassidão.
Os mantos me falam -
Me desnudam e empalam
Embalsamado de tesão.
Os mantos me embalam
Embrulhado na última badalada
Que a noite provoca
Antes do sol me abrir a boca
E filtrar a areia
Fio por fio
Da memória.

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