sábado, 7 de setembro de 2019

O Nada


Eu tenho medo da morte.
Mas não é um medo qualquer – é pavor.
Eu sofro do horror
De perder tudo que tenho
– A vida.
Talvez a frieza clínica de dizê-lo assim
Não esclareça as minhas palavras...
Devia ser poeta,
Mas luto contra algo que me pede objetividade,
Que demanda que eu respire fundo
E me acalme nas certezas
Que em verdade eu sei inconcretas –
Porém devo tornar palpáveis.
É um estranho balanço...
Eu sei que a vida é finita
E a morte inevitável;
Sei que amo a vida
E quero gritá-la
E gritá-la
E amá-la,
Mas se não me convenço que vivo
Ainda agora –
Mais um pouco,
Outro pouco
E mais outro –,
A vida se me despedaça
E eu apodreço em desespero desenfreado;
Se me desequilibro,
Temo que tudo esteja terminado
E aí de que vale uma vida
De horrores aglutinados?
Eu já flertei com a morte...
Seria mentira dizer
Que em seus braços nunca dancei.
Quando o amor que eu achava que tinha
E me sustinha
Não pôde me comparecer,
Eu a desejei.
Eu era frágil, tão frágil,
E os horrores que assombram a vida
Tão mais facilmente podiam me derreter.
Em seu consolo eu me entretinha
E cria que seu abraço poderia me satisfazer.
Quanto engano...
No dia em que ela veio
Eu me vi ainda mais horrorizado
Do que por quaisquer dores
Que a vida até então me dera.
Lembrei de todos os temores
Que da morte enfrentei
E entendi quão grande é o dote
Que a vida me ofereceu.
O que sempre desejei, afinal,
No meu flerte constante
Foi o silêncio,
Tão tristemente confundido
Com a absoluta quietude.
O que quero é o som de nada
Reverberando em tudo.
Eu quero a paz que me desnude
E grude no corpo
Até infiltrar meus poros
E me ser inteiro –
Não! Quero que brote de dentro
E vaze dos poros
E rasgue minhas vestes
E me desnude de dentro pra fora
E me seja por inteiro.
Mas quero que seja em silêncio
Sem o viés passageiro
Das alegrias.
Eu quero a paz que me tome
Na leveza do nada
E me faça esquecer
Todo anseio.
Eu quero que o 'quero' me suma
E em seu lugar 'eu' se faça
A doce vontade do nada
E o seu descansar verdadeiro.

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