De que serve
O verso de amor
Se versado sozinho
Amado em pergaminho
No arrasto das ondas
Engarrafado
E enviado ao desconhecido?
De que me vale
O silêncio da carta de amor
Que sequer à dor
Dos amores mortos
Se encaminhou?
Eu desconheço a fonte
De tanta vida,
Tanta alma minha
Embrulhada num corpo de simples caneta
Que vaza, e vaza, e vaza
Ensopando as folhas,
Fazendo-as o próprio mar
Azul de letras
Endereçado às encostas de todo o mundo.
Vale-me tanto o rio
Que cavo entre os montes
Fluindo em furor
De águas profusas
Brilhando a me constelar?
Vale-me... Vale-me fundo!
Vale-me até o núcleo duro
Que perfuro, atravesso,
Arrebento, oblitero
E reúno
A cada verso,
Cada universo que lampejo de amor!
Vale-me qualquer amor,
Todo amor que me queira tragar
E apagar.
Apago-me como as estrelas
Que brilharam por uma eternidade
Na escuridão vazia;
E se isso for tudo,
Isso basta.
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