quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Eu que ti

Eu que te busco
Cego
Feito errante ineterno.
Eu
Que te quero
Quem sejas
Ensejando
Ereto
O monolito de ti
Feito leitura inerte da História
Enganando-me sobre a parte
Macia
E às vezes concreta
Dos meus pés
Que desejo entrelaçar em ti
Quem quer sejas
Inoportuno e inexistente
Como tu... Ai,
Como tu és -
Tão ofensivo esse verbo
Que te obriga a existir
Conquanto não te obrigo a nada.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Cântico dos Cânticos

Hoje entendi todos os versos eróticos
Dedicados a grandes amores
Desde os Cânticos de Salomão.
Culpa da tua boca,
Que me sedou com a maciez desses lábios
Cobertos de um elixir oleoso
Que escorreste para dentro de mim
Plantando-o com a tua língua
Delicadamente na minha.
Assim me alimentaste;
Depois me recobriste dessa magia
Por todo o corpo
Fazendo-me uma camada protetora de saliva
Sobre a pele que derreteu na cura.
Me fizeste teu, encasulado num banho de alegrias puras
Que já não sou capaz de esquecer -
As asas me serão inevitáveis.
Mas disso tudo sabes... Tu sabes que hoje te pertenço.
A poesia de Salomão é completamente desnecessária
Para te dizer qualquer coisa -
Entre nós não houveram silêncios nem dúvidas;
Soubeste desde o princípio que te devoraria
E eu também soube que me comias com o olhar.
Pois, então, me coma:
Estes versos de que te sacio,
Por mais que desnecessários,
São os frutos que flori de tu inseminado em mim.
Esta é, afinal, a natureza dos homens
Quando chega a primavera.
E como é bom que chegaste...

sábado, 7 de dezembro de 2019

Poema Pacificado


(Trixie Smith - My Daddy Rocks Me)

Devo me desculpar:
Por ti ainda não pus
Versos no papel.
Mas, feita esta penura,
Eis remendado o erro.
E justifico:
Você me dá paz,
E a caneta só me costuma tecer
Quando algo me adoece;
De ti o que conheço
É um carinho de silencioso aconchego –
Pra que vou querer compartilhar
Com o mundo esse eu contigo?
Esse quem sou no teu encanto
Não precisa ser poeta –
Ele se contenta muito mais em ser outras coisas:
Um escritor mais prolixo,
Mais rico de sentimentos por dentro
Para de outras formas se confessar.
Mas entendo a ironia
De um amor sem poesia,
Quando tudo que sempre se quis
No mundo (e talvez em mim)
Foi casá-los como se fossem necessárias
As formalidades do complemento
Para um ao outro respirar.
Portanto, eis aqui tecidos
Com muita calma e sinceridade,
E nem por isso com menos afeto,
Os primeiros versos de ti
Que recebas, espero,
Com o mesmo sorriso tranquilo
Que sempre me reservas
Ao fim dos turbulentos eventos do dia.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Pequena estupidez de mim


(The Stephane Wrembel Trio - Big Brother)

Eis aqui enumerados
Os motivos pelos quais
Devias me amar:
Em primeiro lugar,
Tu.
Tu és interessante demais
Para te deixares
Empoleirar tão rápido
Nuns galhos nus
De pouco espaço
Como esses em que costumas
Te acostumar.
Depois, eu:
Se tivesse que te confidenciar,
Eu seria muito mais crível
Do que essas crenças
Nas quais tu costumas te confessar.
Eu seria uma religião
Bem mais profunda
Para te arraigar.
Eu te enganaria
De enganos mais puros
Que não mentiriam
Mentiras estúpidas
De pequenez rotunda
Formadas nas psicologias do dicionário,
Como as que preferem
Te acontecer.
Eu te arremeteria
De curas
Mais gostosas
Do que as doenças que te acometem –
Eu te sararia mais que os saraus
Das poesias que a ti costumam remeter.
E, em terceiro lugar...
Tanto faz os terceiros
A essa altura já não importam entre nós.