domingo, 12 de dezembro de 2021

Baluarte

Os silêncios e os pedregosos entulhos no caminho
São as sinas que se me intercalam.
Por meio deles meus sinos ora se calam,
Ora clamam os cantos que ecoam
Lamuriosos na catedral de mim,
Oscilando nas velas que brilham
Como oferendas no altar
- Como vagalumes no jardim.
Eu sou a interface da luz com o som,
O encontro entre o tato e o olfato,
A cor que vibra num tom
Que desce entre a língua e o palato
Em puro estado carmesim.
Eu sou a paz do templo
E o furor da monção;
Sou o prazer que alimento
E a graça da extrema unção.
Sou elixir e unguento,
Germinador e rebento;
Sou todas as coisas que tento,
Tudo aquilo a que atento
E, ainda assim, sou o vento:
Sou todo o relento
Por onde sopra a minha canção.
Eu sou a tocha que arde,
A luz que ela alarde
E, ao seu redor, sou a escuridão.
Eu sou o homem que parte,
A casa que fica, o caminho, o estandarte,
Sou os passos que o homem fia
E tudo o que ele vê pela via.
Eu sou, afinal, a íntima parte
Onde residem todos os versos
Que ao fim de seus rumos diversos
O poeta comparte.

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