quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Mito de dessagração

Houve, certa vez, um rei que teve um sonho estranho.
Nele, todas as nascentes de rio da terra desciam na mesma direção,
Brotando do rumo de onde nasce o sol e estiando no poente.
Interpretou a mensagem como uma ordem
Para que alinhasse sua cidade virada a oeste.
Desabrigou tanta gente que o reino entrou em colapso.
Mas o rei não cedeu.
Terminada a obra, sucedeu que uma tempestade de areia
Foi suficiente para derrubar tudo, numa destruição em dominó.
Talvez o sonho fosse uma mensagem de alerta
Que do leste viria a tormenta.
Mandou que fizessem tudo de novo, desta vez afrontando o tal leste.
E depois de mais um longo sufoco, a ordenação foi cumprida.
Desta vez, a nuvem veio convenientemente do lado oposto,
E novamente tudo veio abaixo.
Inconformado, e com o tesouro esgotado,
O rei chamou sábios dos quatro cantos da terra
Para encontrarem o verdadeiro significado do sonho.
Foram muitas as interpretações, até que uma se ergueu ousada e diferente:
Talvez os rios com que sonhaste, ó rei - disse o sábio -,
Sejam somente o fluxo da tua mente
Que enquanto não mudar será inundada
Pela torrente de ventos da vida
Até aceitar que nada é tão somente.
Desde então não houve ordem no reino
E a cidade prospera vez ou outra,
Volta e meia perde um pouco,
Mas está de pé.

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