sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Vem vir

Eu vi lá longe escondido
O velho pequeno passarinho
Encapsulado em emoções
Incompreendidas.
Vem vir, passarinho!
Vem vir que vai!
Mas ele fica lá, em posição fetal,
Engolido na eterna guarda
Da destruição.
Vem vir, passarinho!
Vem vir que vira e sai!
Eu senti o passarinho passando
Leve e fechado na garganta
E descer lá fundo
No limbo do coração.
Vem vir, passarinho!
Vem vir que pode ser que valha a pena
Ainda crer um pouco mais
Em outra coisa alheia,
Em outras asas que abraçar!

domingo, 22 de janeiro de 2017

Eros Tabú Cabe Travar

Eu não desejo ser o aprisionador
Eu quero ser a prisão em si
Eu quero ser o paraíso infernal
O teu inferno delicioso que não percebes
Eu quero ser o teu enfermo choro
Etéreo coro
Cloro ardente nos olhos adorno
Ama meus olhos e o meu amar
Eu quero eterno te adornar,
Demônio
Eros tabú cabe travar

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Todo dia

Vocês não têm a impressão de que vivemos de sombras?
Hoje os dias são cinzas
E quase escondem as bizarras no asfalto,
Mas lá estão,
Deformadas,
Assombrando nos passados,
Futuros
E cotidianos
Todos bagunçados na luz meio apagada
Que incide do céu nublado
Comendo a mente entre o tráfego e o funk
Saindo do rádio do carro
E da traseira da cabeça,
O porta-malas assombrado de São Paulo
Ou do Brasil e do Globo
Neocolonial corpo
Enlameado de vida errada
Encorpada de absurdo capitalista
Na depressão coletiva -
A sombra é absoluta
Irredutível até reduzir à explosão
Que ainda não chegou
Vai chegar;
Esse mundo ainda vai chovar.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Death of a Nation

O poema está quebrado
E só lhe

Resta letargir o silêncio dos inocentes
Que numa sociedade antipoética
Assistiu ruir toda
A beleza
Da qual se tinha notícia
Na essência humana.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Degradação

Ultimamente a vida é medo.
Medo.
Medo, medo e mais medo
Coberta de segredo
Velada no escuro
Sob os terrores noturnos
Que só escondem no fundo
Os temores mais fundos
De desamor
Desatenção
E desvida
Onde ainda mais escuridão reinará
Até tão grossa não sobrar espaço
Para nenhum sentir -
O meu medo é não haver mais medo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Δη+¡<Φяρ0

(Paradise (Not For Me) - Madonna)

Meu corpo virou
Do avesso
E cada vez que arrepia
A carne expia as fibras da musculatura
Que se arrancam do lugar
E erigidas doem
Enquanto o pelo dentro coça o coração
Que não se aguenta e palpita
Desritmado e salgado
Do suor a lhe ferver.
Meu corpo virou
O portal de céu e inferno
Alternando passagem a anjos e demônios
Que quando paridos passam arrancando
Pedaços da alma
Até um dia
- Que não venha -
Sobrar só tripa
Como as ranhuras de uma porta gasta
Arranhando sons de desencanto
Ao abrir e fechar.
Meu corpo virou
A vários lados distorcido
Andando pra trás
Falando de lado
Amando de ponta-cabeça
Tocando com cotoveladas
E pensando por fora
Como se o corpo nem estivesse lá.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Con la corda Mi

Mira la noche
Que neblinada está
E que?
No es nada -
Solo eso mismo.
Besitos junto a mi mensaje!
Hay tenido saudades de mim?
Hay tenido un hombre más tarado que mim
Mimando, mamando, amansando teu ego
Amassando as papoulas em droga
Para alucinardes
Alucinógena española
La corda mí?

Poema Numa Varrida de Versos

Minha vida?
Guantánamo
Guarita que é muamba
Lagarto na corda bamba
Amor
Dolorido
E os poemas.
Ela é as repetições
Os erros descorrigidos
No descarrego.
É o arrego
Feito de insistência.
É o existencialismo místico
Num culto de ateísmo
É o livro do desassossego encarnado
Na forma de raposa
Alada
Bicuda
E de todas as outras formas transfigurada.
É a cerveja e o agradável nada
E é tudo que vem numa paulada.
É tudo que não quero
E não vivo sem -
Que metalinguagem manjada.
É o desconfortável leito
Em que meu corpo se ajeitou
Pra dormir um sono mais gostoso
E sonhar desplanejado.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Cerveja e Chocolate

Às vezes você não é tão bom assim
"Mas vai que é"
Ela insiste dentro de mim
E não é que aprume e invista
Torto e machucado
(Apesar que sim)
Uma lambança esculachada
E esdrúxula
É só que faz sentido no estômago
Mesmo que não na epiglote
Nem no epílogo
É só que o mote está lançado
E a vida não dirá
Antes de terminar
De atravessar aquele rio rochoso
Pastoso
Do meu amanhecer
E enquanto eu passo aqui a noite
Exaurido de ser
Prefiro pensar nisso mais um pouco
E torcer que degustando
Eu durma enfim menos afobado
E acorde menos cansado
Do meu pas de deux a menos três.

Destópico

Guerra em paz
Guardada à la gueixa
Nas catacumbas do gutural
E guizo dos olhos
Guizo dos olhos

Risos

Guizo dos óleos
Da pele mal banhada

Distopia dos olhos

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O Lagarto

Por toda a minha vida
Tomei caminhos sem fim
Que se apagavam debaixo de meus pés
E já não faziam sentido.
Por toda a minha vida
Deixaram de ser caminhos
Para se tornarem pairação
Em meio a um inferno escuro sem direção.
Por toda a minha vida
Houveram infernos espalhados no tempo
Marcados na carne a ferro quente
Cicatrizando em marcas que não me deixaram.
Por toda a minha vida
Cicatrizei esquisito uma pele escamada
Até meus olhos virarem olhos de lagarto
E eu ficar acoplado numa árvore
Buscando com meu olhar morto
Por toda a minha vida.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Mantra

(Shanti/Ashtangi - Madonna)

Mantra de sobrevida
Manta sobre o camelo
Cavalgada noturna no deserto
Plena estatura na tempestade de vento
Hominídeo do espaço no templo
Sol na barriga, lua na mente
A cobra sai pela boca e derrete na areia
Antram os espíritos da paz
Antram de volta as borboletas
Homam os oráculos em pingente na testa
Om