São muitas as vezes que o silêncio passa
Discreto nas fendas da vida corrida
E as permeia de milagroso estar
Como um óleo que desarranha o verter da porta
E permite ao vento assoprar
Sem assombrá-la,
Sem perturbá-la além dos seus devaneios mudos,
Acedendo a se conformar apenas
Com um último estalo agudo,
Um estrondo de suspiro finado.
São tantas as vezes que o silêncio passa
E ainda assim rangemos
Como se o som se lhe complementasse
Um algo a mais de existência,
Mas não -
Não.
O silêncio não se arreia.
Ele se despe dos ornamentos viçosos,
Assopra a candeia
E faz das trevas a sua morada -
A morada da grossa noite do espanto
Onde reluzem os brilhos negros
E os sons obtusos
Na estranha contradição
Dos medos que se aceitam
E dormitam cercados de sonhos.
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