sexta-feira, 22 de abril de 2022

Albatroz

Eu me lembro
De uma coragem ancestral
Que me banhou.
Suas águas correram por sobre minha pele
Limpando minhas chagas
E levando consigo a infecção.
A ferida, então, secou
E fechou
Curada de pura forma
No amor que me selou.
E eu me vi blindado
De uma plena nudez:
Me vi aberto e tomado
Por um estado
De torpor e lucidez.
E soube que a dor é duas:
Uma é dura, perpétua e escura
E agarra o peito em silêncio
Querendo fazer-me amargura
E fechar por inteiro meu Ser;
A outra é pura,
Um raio de plena loucura
Que passa com a fúria dos Sete Mares
Varrendo meu conceber.
Ela me leva às alturas,
Empurra minh'alma
Até as lonjuras
Do meu dolorido ascender.
E lá, nas nuvens inebriantes
Do desconhecido veloz,
Ela me faz albatroz
E eu mergulho do mais alto em mim,
Alcançando meu mais profundo
Num instante,
Num puro rompante
Que me faz novo respirar.

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