sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Da queda de Mubarak

Caiu hoje o ditador egípcio Hosni Mubarak. Já não era tempo, diga-se de passagem: depois de dezoito dias de protestos intensos em inúmeras cidades do país e uma negativa à renúncia no dia anterior, Mubarak mudou de opinião. Honestamente, fiquei surpreso - é um tanto inusitado que um homem que governou um país por trinta anos saia no dia seguinte a um pronunciamento em que declarou permanecer no poder até Setembro próximo, quando ocorrem eleições.
Pode até ser um pouco conspiratório, mas não me convenci de que os protestos da população tenham por si só derrubado o autointitulado presidente. O exército já se mostrava insatisfeito com os rumos que a nação vinha tomando: o alto comando afastara-se da repressão, declarando legítimos os anseios da população; depois, o general Hassan Al Roueini disse, na tarde de ontem, que Mubarak atenderia às exigências dos manifestantes ainda naquele dia (fato que só aconteceu hoje). Por outro lado, o Exército também deu sinais de estar insatisfeito com o prolongamento do movimento popular: oficiais chegaram a pedir que as pessoas voltassem para casa; o Chanceler, ademais, advertiu para a possibilidade das Forças Armadas intervirem no processo.
Hoje, afinal, Mubarak caiu. E quem assume o poder? O Exército, claro. O que para nós, Ocidentais, sempre gera algum receio (mas também, o que no Oriente Médio não gera receio no Ocidente?). Especialmente na América Latina, onde tivemos experiências um tanto quanto desagradáveis quando as Forças Armadas resolviam intervir na política, e no caso egípcio me parece nítida a intervenção.
Mas isso não significa que o processo será igual no Egito, talvez muito pelo contrário; a política no mundo funciona numa relativa confluência, e fatos históricos são muito bem lembrados não só por aqueles que os vivenciaram. O Exército egípcio tem uma grande oportunidade de demonstrar uma dignidade e fidelidade, arrisco dizer, sem precedentes no mundo Ocidental, e pelo que tudo indica é exatamente essa sua pretensão: o Conselho Supremo das Forças Armadas declarou que vai fazer um governo de transição até as próximas eleições, nada mais.
Não sei o que vai acontecer no Egito, mas uma coisa é certa: foi uma das mais belas expressões de poder popular e desejo democrático da história recente, com o Exército correspondendo aos anseios do povo com proporcionalidade e moderação.

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