Voltar às raízes talvez seja uma das mais reconhecidas formas de expressão musical. No Brasil, por exemplo, o movimento da bossa-nova veio com este intento: resgatar (ou criar) uma noção de música genuinamente nacional através da busca pela sonoridade dos antepassados. Nos Estados Unidos aquilo que chega mais perto de poder definir-se como "raíz" talvez seja o country. Neste sentido, em 2007, Robert Plant (ex-vocalista do Led Zeppelin) e Alison Krauss lançaram um álbum colaborativo entitulado Raising Sand. Aclamado pela crítica, o projeto acabou por levar o prêmio Grammy de melhor álbum de 2009.
O disco é permeado por uma profunda suavidade de espírito e calmaria inebriante, que contagiam até o mais enérgico coração metropolitano. Claro que também faz jus à tradição mais animada do country, a potência do blues de Krauss e até o histórico no rock de Plant. A sensação de elevação espiritual, contudo, é permanente; muito provavelmente em função dos vocais maravilhosos dos artistas envolvidos: uma combinação perfeita de doçura e confiança desenrola-se no encontro de duas vozes provenientes de esferas musicais totalmente diferentes. Esta química é especialmente visível em Rich woman, Killing the blues e Gone gone gone (Done moved on). A parceria funciona tão bem que mesmo as músicas cantadas apenas por um dos integrantes do álbum parecem mergulhadas na sincronia da dupla. Exemplo disso são Sister Rosetta goes before us, de Krauss, e Fortune teller, de Plant.
Escolher uma música que se destaca é, para mim, uma tarefa sempre muito complicada, mas vamos lá. Sister Rosetta goes before us, um lindíssimo monólogo de uma mulher com coração partido que ouve do céu o canto de Sister Rosetta (figura emblemática da música gospel nos anos 1930), é provavelmente a mais bela faixa do álbum. Esta faixa incorpora com plenitude a espiritualidade do disco, e por isso é extremamente marcante. Please read the letter extrai beleza e maturidade de um fim de relacionamento, envolvendo-se, mais uma vez, na profundidade de espírito do trabalho. O lirismo de Killing the blues também é contagiante, assim como o lindo conto de Fortune teller.De forma geral, o álbum é composto por uma energia quase mitológica: suas letras poéticas narram contos distantes sem uma moral da história. Isso torna as músicas extremamente leves, volatilizando os pensamentos mais densos sobre a vida. E essa composição de resgate das origens, mitologia urbana e espiritualidade torna o álbum tão único no universo das músicas seculares (em contraponto às músicas religiosas, que normalmente encarregam-se desta sensação de profundidade). Ouça, e permita-se viajar por sua profunda suavidade!
Título: Raising Sand
Artistas: Robert Plant e Alison Krauss
Lançamento: 23/10/2007
Gravadora: Rounder
Produtor: T-Bone Burnett
Gênero: Country, folk
Faixas - duração:
1. Rich woman - 4:04
2. Killing the blues - 4:16
3. Sister Rosetta goes before us - 3:26
4. Polly come home - 5:36
5. Gone gone gone (Done moved on) - 3:33
6. Through the morning, through the night - 4:01
7. Please read the letter - 5:53
8. Trampled rose - 5:34
9. Fortune teller - 4:30
10. Stick with me baby - 2:50
11. Nothin' - 5:33
12. Let your loss be your lesson - 4:02
13. Your long journey - 3:55
Avaliação: Ótimo
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