quinta-feira, 23 de maio de 2019

Feminina

Tudo que eu sabia
Era natural ao mundo das meninas,
Mas o que eu não percebia
Era o quanto ao mergulhar
Na minha feminilidade
Eu não teria mais lugar
Na minha comunidade;
O quanto eu não saberia
Me comunicar
Com quem eu gostaria;
Quanto não conseguiria
Me conectar
Com quem desejaria.
Mas de forma nenhuma isso é culpa das mulheres.
Eu que as escolhi como porto seguro
E lar;
Eu que me deixo ignorar
O que não seja inteiramente feminino
No seu molde vernacular,
Que me permito me isolar
Dos meus
Em quem poderia ter um encontro
Se não mais, ao menos igualmente profundo.
É culpa minha
E dos meus,
Que não souberam adentrar
Suas feminilidades
Sem medo de se criar
Independente de tudo;
Não que eu os possa culpar:
O medo sempre em mim também se faz.
Eu fujo ao feminino que me é tão confortável
Por medo de não se me aceitar
Dentre meus iguais
Os meus sinais
De carência e dor
Que o isolamento traz.
Deve ser, no fim,
Que os bichos rejeitados
Sempre temem a rejeição
E se rejeitam mutuamente
Previamente -
Antes de se sujeitarem
A qualquer destruição...
O preço que afinal se paga
Pela sobrevivência
É a desconexão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário