Noto cada vez com mais frequência a intolerância radical entre ateus: alegações como 'religiosos são burros', 'a religião corrompe o mundo' e derivados dessa linha são recorrentes. A revolta e a raiva são, em certa medida, compreensíveis: afinal, o ateísmo tem por fundamento a negação da religião, e faz sentido que bata de frente com cristianismos, islamismos, taoísmos, etc. O debate sadio é sempre bem-vindo e não deve ser coibido. Contudo, entre inconformismo, intolerância e preconceito há linhas que deveriam estar bem demarcadas.
Precisamos, antes de tudo, entender os motivos das reações intolerante e preconceituosa dos ateus. O ateísmo, como qualquer minoria, sofre com a "repressão da maioria" (esta foi a melhor expressão que encontrei para a ideia): é reprovado, ridicularizado e odiado por muitos. Sofre sim, muitas vezes, com preconceito. Uma das respostas humanas mais tradicionais a isso é tomar a ofensiva, ou seja, no caso do ateu, negar a veracidade e utilidade da religião enquanto objeto - por exemplo, argumentando a falta de embasamento empírico de determinadas religiões*.
O exercício desse tipo de declaração pode, contudo, ser desmedido. O resultado disso são frases como a citada no primeiro parágrafo: 'a religião corrompe o mundo'. Alocar todas as religiões sob um mesmo contexto tende a produzir análises míopes e intolerantes, geradas por uma aversão interna, sem nenhuma fundamentação racional, a universos filosóficos bastante diferentes.
A defesa de seus preceitos através do ataque pode também ser desfocada e provocar agressões ao sujeito do debate: o religioso. Este tipo de argumentação, como 'religiosos são burros', está fadado ao vício da generalização preconceituosa que usa a instituição religiosa para dogmatizar características em indivíduos. Características que podem ser, e muitas vezes são, falsas. O ato de voltar-se contra outros seres humanos através destas universalizações ignóbeis, pelo simples fato de serem pessoas diferentes, é uma atitude claramente preconceituosa.
Não pretendo com este texto defender os religiosos que se envolvem nesse tipo de debate com os ateus: pelo contrário, são tão intolerantes e preconceituosos quanto seus nêmesis antiteístas (se não mais, na maioria dos casos). Aliás, este texto pode facilmente aplicar-se a eles também. A questão que estou tentando apresentar é a contradição dos ateus que utilizam este tipo de argumento específico: dizem combater a intolerância religiosa, mas fazem isso com os mesmos artifícios que criticam.
O mundo fica estranho quando os "pregadores do amor" (para citar os cristãos, com quem esse tipo de embate mais se dá no Brasil) e os "defensores da laicidade moderna" (como declaram-se muitos ateus) odeiam e humilham-se simultaneamente. Mas se chegamos a este ponto, talvez esteja na hora de revisarmos alguns de nossos valores.
*Este argumento é um exemplo, e portanto não é necessariamente verdade nem corrobora a argumentação do autor.
Precisamos, antes de tudo, entender os motivos das reações intolerante e preconceituosa dos ateus. O ateísmo, como qualquer minoria, sofre com a "repressão da maioria" (esta foi a melhor expressão que encontrei para a ideia): é reprovado, ridicularizado e odiado por muitos. Sofre sim, muitas vezes, com preconceito. Uma das respostas humanas mais tradicionais a isso é tomar a ofensiva, ou seja, no caso do ateu, negar a veracidade e utilidade da religião enquanto objeto - por exemplo, argumentando a falta de embasamento empírico de determinadas religiões*.
O exercício desse tipo de declaração pode, contudo, ser desmedido. O resultado disso são frases como a citada no primeiro parágrafo: 'a religião corrompe o mundo'. Alocar todas as religiões sob um mesmo contexto tende a produzir análises míopes e intolerantes, geradas por uma aversão interna, sem nenhuma fundamentação racional, a universos filosóficos bastante diferentes.
A defesa de seus preceitos através do ataque pode também ser desfocada e provocar agressões ao sujeito do debate: o religioso. Este tipo de argumentação, como 'religiosos são burros', está fadado ao vício da generalização preconceituosa que usa a instituição religiosa para dogmatizar características em indivíduos. Características que podem ser, e muitas vezes são, falsas. O ato de voltar-se contra outros seres humanos através destas universalizações ignóbeis, pelo simples fato de serem pessoas diferentes, é uma atitude claramente preconceituosa.
Não pretendo com este texto defender os religiosos que se envolvem nesse tipo de debate com os ateus: pelo contrário, são tão intolerantes e preconceituosos quanto seus nêmesis antiteístas (se não mais, na maioria dos casos). Aliás, este texto pode facilmente aplicar-se a eles também. A questão que estou tentando apresentar é a contradição dos ateus que utilizam este tipo de argumento específico: dizem combater a intolerância religiosa, mas fazem isso com os mesmos artifícios que criticam.
O mundo fica estranho quando os "pregadores do amor" (para citar os cristãos, com quem esse tipo de embate mais se dá no Brasil) e os "defensores da laicidade moderna" (como declaram-se muitos ateus) odeiam e humilham-se simultaneamente. Mas se chegamos a este ponto, talvez esteja na hora de revisarmos alguns de nossos valores.
*Este argumento é um exemplo, e portanto não é necessariamente verdade nem corrobora a argumentação do autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário