quarta-feira, 22 de junho de 2011

Orgulhos e orgulhos

Se você observar os Trending Topics (os assuntos mais recorrentes) do twitter brasileiro nesta quarta-feira, 22 de Junho de 2011, verá que está em pauta o "Orgulho Hetero". Se resolver ir mais fundo e ler o que as pessoas estão falando a respeito, verá pessoas revoltadas pela falta de uma "Parada Hetero", pessoas fazendo piada e outras criticando o "politicamente correto" que as proíbe de manifestar este orgulho.
Veja bem, não há nada de errado em ter orgulho de ser hetero. Pelo contrário, é legal que as pessoas tomem a iniciativa da discussão da orientação sexual, independente de como esta discussão se dá. O que parece faltar é uma compreensão melhor do que significa "orgulho gay", ou pelo menos o que a expressão representa.
A introdução do assunto será com uma comparação para a qual muita gente torce o nariz: o antissemitismo. A conscientização acerca deste tipo de preconceito deu-se diante de uma situação fática: o extermínio de judeus nos campos de concentração nazista. Estes entre tantos outros - ciganos, eslavos, comunistas e, pasmem, homossexuais - de uma extensa lista de "raças inferiores" e "seres degenerados". Os judeus, no entanto, foram o povo que ficou mais profundamente marcado na história ao final deste triste episódio. A humanidade então começou a tomar providências para lidar com o preconceito, tanto no âmbito político-jurídico quanto no espaço da ética e da moral: falar mau de judeus passou a ser sinônimo de algo errado para a comunidade, algo que deve ser reprimido e rejeitado.
Mas não é de se negar que, mesmo com toda essa lógica anti-intolerante da sociedade, ainda hoje há preconceito, inclusive contra os judeus. Este se dá, de uma forma geral, contra as minorias: qualquer grupo de pessoas que não se encaixe na maioria (no caso do ocidente, os cristãos brancos, em geral) por causa de sua religião, procedência nacional, aparência física, gênero sexual, orientação sexual ou qualquer outro critério que você queira encaixar na amostragem para diferenciar indivíduos dos demais.
Uma das formas mais tradicionais de combater este preconceito é fortalecendo a imagem do respectivo grupo minoritário, afirmando a identidade dos indivíduos através de estereótipos (sim, estereótipos nem sempre significam coisa ruim). Ressaltam-se, então, os valores da comunidade judaica, a beleza e força da "raça" negra e o orgulho dos homossexuais de serem o que são; e aqui chegamos no ponto que queríamos alcançar.
O orgulho gay é, antes de tudo, uma maneira que a comunidade LGBTT encontrou de identificar-se, de declarar sua existência para o mundo diferenciando-se estereotipadamente da maioria. Por isso há Paradas de Orgulho Gay espalhadas por todo o mundo! Esse tipo de valoração é exclusivo de minorias, por mais que a maioria reclame. Não que isso seja ruim para a maioria: uma nação é composta por pessoas dos mais variados tipos; o povo, como um todo, é diversificado. Somente quando focamos num grupo conseguimos concluir características específicas para diferenciá-lo.
Por isso, não há nada de errado num orgulho hetero: ele inclusive ajuda a realçar as diferenças entre os homossexuais e os heterossexuais. Contudo, ele não possui a carga ideológica, vital para a proteção das minorias, que o orgulho gay tem. Querem fazer uma parada do orgulho hetero? Que façam! A questão é que um movimento desses seria carente de sentido, de propósito: não há uma identidade heterossexual uníssona que precise ser protegida.

Um comentário:

  1. Pois é. Colocações baseadas em senso comum e falta de argumentos, realmente, levam a praticas vazias e sem sentido.
    Beijão, Rafa!

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