domingo, 3 de agosto de 2014

Javali

Javali um sonho.

Recebi uma visita dos espíritos da felicidade.
Tudo passou rápido demais.
Sentamo-nos à mesa, passei um café.
Falamos de assuntos eruditos.
Rimos de coisas banais.
De repente era hora de partirem.
Há bichos na selva que se alimentam de espíritos
E roncam assustadoramente no calar da noite.

Javali um mito.

Era uma moça poeta quando criança.
Melhor que poeta, era ninfa.
Tão natural que nem a dor podia me doer.
Precisava de um escape para sofrer.
Um dia fugi pelo caminho do desencanto
E escapei para sempre de ser feliz.
Lá estava um enorme deus porco que me cobiçou
E em troca do tão desejado infortúnio
Pediu-me amor.
Hoje sou só poeta.

Javali uma vida.

Valho tantas vidas quanto já comi.
As carnes me passam, dissipam e saem desfibradas;
Desfibriladas; ventríloquas.
Já tive uma própria. Não mais.
Desde que me saciei do lombo de um javali selvagem
Virei vampiro de tempo:
Gasto-o todo para sentir os olhos piscarem
Por um segundo que seja.
Já fui muito mais...
Porém não quereria mais ser.
Aqui está melhor.

Jánãovalho e encravo melhor na seiva da vida.

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