Um corpo, legião de espíritos;
Todas as sensualidades
Num instinto selvagem de má educação.
A complexidade do silêncio em voz.
A cadência da personalidade em decaimento constante.
O breu de um poço sem fundo.
O desastre do ego nuclear.
Garganta de Guantánamo.
Guardião do erro, bastião do impropério.
A bandeira de um império esquecido incorporado In loco corpus,
Locust of dust.
Panteão.
Manda avisar via terceiros
Que os terreiros estão abertos
Os deuses da fúria estão em polvorosa
O santuário avermelhou -
Mais um ciclo completo retorna à casa da descompaixão;
Mais uma vez desumanizada em demônio;
De novo o enfaixamento dissolve em ventosas de fogo
E carimbo um selo na testa.
Ouse adentrar os dois olhos do furacão -
Este é o terceiro aviso.
Ouse provocar mais uma íris no dragão -
Vinde à tentação do desassossego.
Vinde, tentação!
Vinde com tuas águas contrárias para me neutralizar.
As voltas aceleraram, quero ver intentares
Sem incineração.
Deum mortus est.
Suas cinzas desgarradas do Todo vagaram sobre a Terra.
Nos pequenos redemoinhos erigidos pelo vento
Subiu um templo apócrifo de divino recoberto de barro -
A ele o nome de humano se deu.
A cinza morta se manifestou
Queimando em sonhos repletos de simbologia terrena
Num inconsciente coletivo.
Isto não é Deus.
Isto é o limiar de um altar de fogo
Ardendo um touro branco imortal
Cuja carne resfria em carvão
Vazando pelas beiradas
Eternamente se renovando e decaindo
Expelindo a argamassa do tempo sobre o chão
Para que ele em novo ritual remoifique um altar
No moinho da vida
Até o fim chegar.
Hominis mortus est.
As coisas não podem ficar excessivamente corretas
Minhas fases não são lineares
Meus amores são problemáticos em demasia
Anestesia pra quê?
Sonho de um homem que muda de rosto
Entre todos que amei
E ele em contrapartida assiste uma tela transparente
Finalmente vendo pelos meus olhos
Saindo do meu plano enigmático para o mundo
Ele e eu nas minhas pupilas espelhadas
Onde se encontram os espectros de gente
E dois se fundem num buraco negro
Para devorar o universo numa única visão
Criar a dimensão paralela em que enfim resido
Meu lar não está aí no fundo nem aqui no infinito
Está na superfície nebulosa e ondulante.
Você não é único.
Veja quantos sofrem por amores perdidos;
Quantos amam escondido;
Vendem a torto e direito os entes de cada canto da mente;
Despedaçam o corpo para acomodá-la;
Rasgaram a túnica em vão;
Engoliram vinho seco demais;
Levam o vício a um novo patamar
Deixando rastros de suas dores em outros corpos
Até o gozo secar na ponta da língua,
No canto dos olhos,
No fundo do crânio
E nas letras tortas de amores garranchados na lápide daquele.
Você não é único.
Eu já amei outros sofrimentos perdidos;
Já tive amores proibidos;
Vendi a torto e direito o meu carinho em vários cantos do mundo;
Desabrochei o corpo para acomodá-los;
Rasguei vestes de púrpura para soltar a pele;
Entornei safras requintadíssimas;
Levei o vício a outros patamares
Deixando rastros de felicidade em outros corpos
Até o gozo deles secar na ponta da língua,
No canto dos olhos,
No fundo do crânio
E as letras tortas garrancharem a lápide do futuro.
Você não é único.
Ele tem outros amores que se perderão;
Teve amores na penumbra;
Vendeu a torto e direito um amor que pensavas teu noutros mundos;
Repartiu o corpo como pão para se acomodar;
Deixou as traças carcomerem a toga dourada que lhe deste;
Tomou vinhos bons e ruins;
Encontrou vícios de outro patamar
Criando seus próprios rastros de dor e felicidade
Até o teu gozo secar da ponta da língua,
Do canto dos olhos,
Do fundo do crânio
E só restarem as letras tortas garranchadas na lápide de um amor que dele se foi.
Guardo uma porção de magia
No lado esquerdo do cerebelo
Para desaprender o equilíbrio
Ou reaprender o desequilíbrio,
Sabe lá o que sai dos vulcões em erupção.
Guardo na carteira uma dose
Para revirar a mesa.
Sentes meu revigor?
Que relívio da droga!
O horror da desquímica é demais para uma pobre mente
Paupérrima das pauladas da vida.
Ufa! Vivo nos tempos da medicina moderna,
Ela salva dos erros eros
Ela mata muito mais gostoso
Salvando as minhas letras
E a alma infernizada de terra.
É muito tempo em cima de tempo
É muito rápida a distância
É muito enfático o recorte
É muito errático o suporte
É tudo muito apático à minha ferocidade
Até que se me enjaule a sorte
E lançada esparrame no molhado
Sumindo...
Sumindo...
Sumindo...
A solidão está no apartamento cheio
Enquanto a maior alegria paira no abandono.
Aprendi a amar sozinho com uma leve dor de vazio
Tentando ser o melhor e mais completo possível
Sem que se me entregue um risco sequer de calor.
Eu não espero nada, desejo pouco.
Os homens vêm e vão,
Os casais se dão a mão
E eu assisto quietinho.
O tempo de sofrer há muito se foi;
A vontade do querer não me apetece.
Vejo o carinho fluindo com tanta naturalidade em outros portos
E aqui fechado para uma infinita reforma
Interditado em calamidade pública;
Deixo a grade cerrada novamente com sinal de 'perigo'.
Enferruja, bem-querer -
Teus floreios não são mais necessários.
Existe um grilo no meu quintal
Sempre cricrilando
Inescapável
Um dia ou outro ele aquieta,
Mas eu sei que está lá;
Ouço seu existir.
Onde está o silêncio que vai me salvar
Desse canto maravilhoso?
Quero a quietude, mas o grilo não morre
E fico sempre esperando ouvir ele serenar.
Quem será que morre primeiro:
Eu ou o desejo de tê-lo lá?
O frio acostuma, mas não aprece,
E mesmo que eu prece ao deus do infortúnio
A fortuna corrompe
E desejo ser rico.
Ainda que se pregue um voto de pobreza
O Papa traja ouro,
Trajano quer a Pérsia
E Roma que rua sob o peso de seu próprio vazio.
Que é o centro do mundo sem suas beiradas?
Expandir é instinto, pecar é preciso
E esse monge pecaminoso não cessará
Enquanto não ver as bordas da Terra redonda,
Enquanto almejar não signifique novamente alcançar os próprios muros,
Enquanto retornar não seja ao infinito romar.
Qualé a sua, amor?
Fecha a porta
Ou escancara a varanda;
Essas frestas não condizem
Não conduzem
Não conluzam o corredor e a rua.
A rua tem um brilho muito escuro,
Há muito perigo,
E aqui há segurança demais,
Um exagero para os transeuntes -
Uma claridade que ofusca.
Prefiro um quarto escuro
Onde as fotos, com suas luzes passadas,
Sejam o último conforto
Sem o eterno risco dos feixes penetrantes
Que adentram para cortar mais um pedaço da alegria que poderia ser.
As fotografias que, nessa câmara obscura,
Se percam debaixo da cama
Até nem um último fio de luz restar.
E eu aqui envelhecido, amadurado e encarvalhado
Familiarizado com as dores neutras que não corrompem mais
Acochambrado em certezas duvidosas de desfim
Desfiado em fina púrpura
Dos mercadores que não me conservaram para o fim;
A conserva não é adequada para mim,
Mas quem sabe ainda me vendam sob o pseudônimo de cetim avinagrado.